Em tempos, o emigrante vivia em conflito permanente; a técnica fazia dele, a maioria das vezes, uma máquina; e a organização social do país onde residia escapava à sua consciência, humilhando-o a qualquer gesto de oposição. A cultura desse país apenas lhe tocava pela rama através das imagens da televisão, dos jornais (muito poucos), dos reclames nas montras, do que escutava, aqui e ali, principalmente nas aldeias, etc. Era, portanto, sujeito a um sistema social que lhe era estranho.
Com famílias numerosas, sobretudo nas décadas de 1960/70, grande parte dos jovens arriscava a saída deste país na procura de um mundo novo. No entanto, acima de tudo, tinham sempre em mente a terra natal, a família, os amigos e a ânsia do regresso para férias e de um retorno definitivo à Pátria. Estas, salvo raras exceções, eram preocupações constantes do dia-a-dia de cada emigrante. Nunca foi fácil emigrar para qualquer português, a não ser que no país de destino tivesse alguém com possibilidades de lhe facilitar o apoio necessário, a começar pelas dificuldades impostas à origem, em especial ao nível da documentação. Depois, havia os problemas da língua (quando era o caso), do alojamento e, acima de tudo, conseguir um trabalho digno e estável para se enraizar e conhecer amigos que o ajudariam a dar os “primeiros passos” nesta nova vida.
Tinham como denominador comum a ligação à terra de origem, daí a preocupação em unir esforços para evoluir socialmente, fazer poupanças para construir a sua casa e viver mais folgadamente a velhice. Era um prémio merecido, dado o sacrifício da separação de tudo aquilo que lhes era mais prezado; porque eram estrangeiros perante a sociedade em que foram integrados; e a profunda saudade ao não esquecer a terra-berço. O país que os acolheu “deu-lhes a mão” e alimentou-lhes esperanças, mas as desilusões foram muitas. Eu próprio senti isso.
Hoje, quando se pretende um operário com profissões específicas, a resposta é de que todos se encontram fora do País. Continuam a emigrar, só nos restando a importação de mão de obra estrangeira para determinados trabalhos. A França foi o que fez nos anos sessenta e, mesmo antes, sentiu essa necessidade, já que, por exemplo, lhes escasseava gente para a construção civil. Atualmente, os nossos jovens são na sua maioria “universitários”, e Portugal sofre da mesma perturbação.
A dimensão deste fenómeno nas suas vertentes: emigração legal e/ou clandestina; e a sua expressão em todos os estratos etários da população, sobretudo na mais jovem, confirma as vetustas raízes históricas deste movimento. Saem médicos, enfermeiros, operários, agricultores, etc. e vamos ficando desprovidos de mão-de-obra qualificada de que tanto necessitamos. Por isso se diz tanto tratar-se de uma realidade bem própria da sociedade portuguesa, relacionada com as más condições de vida da população, como resultado de uma economia que está longe de encontrar o seu caminho desenvolvimentista e estabelecer melhores condições para todos. E assim vamos suportando o êxodo dos técnicos de que vamos precisando cada vez mais.