A persistência como prática

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Gonçalo Fagundes Meira

Em crónica recente falei do bom aproveitamento do tempo que fazem muitos daqueles que vivem na situação de reforma; de como se valorizam fazendo novas aprendizagens, de como aprendem a viver de forma diferente, de como se sentem úteis e como, tantas vezes, descobrem em si algo que estava escondido. A presente abordagem vai, mais uma vez, para um caso isolado a merecer distinção.

“O aborrecimento é uma das faces da morte”, dizia o escritor Julien Green (1900 – 1998). Trata-se de um conceito que nos aconselha algum esforço anti tédio e tristeza. Nada melhor por isso que o preenchimento dos tempos desocupados. Há dias constatei isso também com o Arquiteto Fernando Meireles, que considera a arquitetura como coisa do passado e a condição de artista plástico como ocupação do presente. Visitei-o na galeria da Fundação da Caixa de Crédito Agrícola, na rua de Aveiro, onde está patente a sua mais recente exposição, uma mostra deveras interessante, julgo. Trata-se de um pintor cujas exposições costumo visitar. Entendo que procura sempre o novo e aprofunda à exaustão as diversas técnicas da pintura.

Há pintores cuja obra, mesmo que vista espaçadamente, não oferece dificuldades de identificação. Outros há que pela diversidade de estilos e técnicas, estabelecem muitas vezes a dúvida de autoria. Fernando Meireles confessa o seu experimentalismo e a sua insatisfação em relação ao que vai fazendo. Um pequeno vídeo que corre permanentemente na galeria revela-nos isso. Trata-se de uma característica própria de quem ama a arte, princípio que o autor não renega. Ainda bem, porque a sua pintura, pela temática, segurança, aprofundamento de execução e equilíbrio de cores vai surpreendendo positivamente. A obra em presença foi trabalhada na base da técnica mista, com recurso a colagens de desenhos previamente produzidos, de onde emergem figuras musculadas, abstratizantes ou com definição acentuada, esbatida nos contornos pelos fundos de cores fortes e pouco variadas, predominando nestes um geometrismo minimalista.

Estamos assim, ajuízo, perante uma das melhores exposições deste pintor a tempo inteiro, que justifica bem a nota, nada parca em adjetivos, que lhe escreveu para o catálogo de uma das suas mostras Justino Alves (1940/2015), um pintor de méritos, prémio nacional de pintura em 1969. É razão para dizer, Fernando Meireles, que a persistência é o caminho.

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