A praga dos incêndios

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Chega o verão e o país deixa de ter paz. Basta que as temperaturas ultrapassem os 30.°c para que o inferno dos incêndios passe à condição de problema nacional. Miguel Sousa Tavares perguntava, há dias, “porque é que depois de tantos milhares de hectares ardidos continuamos a viver com este terror, que nos rouba o prazer de umas férias tranquilas, com sentimento de culpa por o gozo de um dia de praia ou uma noite de luar”. Pergunta lógica, que traduz bem o sentimento da maioria dos portugueses. Quem pode ter sossego, com as televisões a informar-nos em direto dos fogos semeando a destruição, deixando populações, quase sempre idosas, na penúria e no desespero, sem meios para iniciar vida nova.

Podemos dizer, e é verdade, que os incêndios são um problema do mundo inteiro. Presentemente estão instalados no Sul da Europa, mas vão-se espalhando pelo planeta, conforme se vão reunindo condições para tal, particularmente quando as temperaturas atingem valores elevados, que não vão parar de crescer. Contudo, esse argumento não vale de todo, porque estamos a provar que aprendemos e agimos insuficientemente e que estamos muito entregues à Divina Providência, na expectativa de que haja verões não muito quentes e com suficiente humidade para que tenhamos a vida facilitada. 

Já em tempos aqui escrevemos que, antigamente, os incêndios eram raros, porque havia a economia do monte, da qual nada se perdia e tudo se aproveitava, contrariamente ao que agora acontece, com a floresta praticamente abandonada e exposta mais do que nunca. O que se pode, então, perguntar é porque não se criam oportunidades para explorarmos de novo os montes. Não como antigamente, tendo como apoio o carro das vacas e instrumentos rudimentares (até as madeiras se serravam no local de abate da árvore), porque ninguém está para aí virado. Tal como nos modernizámos em quase todas as áreas produtivas, igualmente o devemos fazer em setores desta importância.

Não basta ter mais e melhores meios de combate, melhor vigilância, e debater, à exaustão, o problema nas televisões enquanto o país arde, se não tivermos uma floresta mais protegida; e isso exige medidas de fundo quando os fogos não estão na ordem do dia. O problema é que, chegadas as épocas de chuva, o assunto sai da agenda dos governos. E se, por razões de baixas temperaturas ou outras, o número de incêndios tiver decrescido, logo se faz todo o aproveitamento político desse facto, na expectativa de um novo verão ainda mais ameno. “Só que os anjos estão cada vez menos connosco”, porque tratamos demasiado mal o planeta.

GFM

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