Alteração de hábitos sociais

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A. Lobo de Carvalho

Uma sociedade sem valores éticos e morais é uma sociedade condenada ao fracasso, podendo ser comparada a uma seara onde proliferam ervas daninhas que consomem os nutrientes necessários às plantas que nos fornecem os alimentos. E a sociedade em que vivemos, deficientemente regulada, encontra-se infestada dessas ervas daninhas que prejudicam o desenvolvimento natural do ser humano. Não que seja tudo negativo, muito mal estaríamos se assim fosse, mas sem dúvida que, por este andar, o futuro será bem mais problemático. Existem hábitos e costumes que, pelo seu valor ético, penso que não deveriam ser abandonados por conterem um substrato essencial à sã convivência. Vejamos alguns exemplos do que se passa no nosso ambiente nacional.

Lembro-me muito bem de, quando era criança, me ser ensinado para respeitar todas as pessoas, desde logo no tratamento por você aos meus pais e outras pessoas mais avançadas na idade, o que colocava logo à partida um travão para evitar abusos. Segui com naturalidade esse ensinamento, continuo a tratar as pessoas por você, sejam elas mais velhas ou mais novas do que eu e seja de que estrato social ou etnia forem, não me dando mal com esta prática, já que todas merecem respeito, porque são seres humanos como eu. Porém, amiudadas vezes observo tratamentos de filhos para pais absolutamente abusivos e desafiantes, sem que os pais reajam ou corrijam. Depois, lamentem-se de que os filhos são rebeldes e que abraçam uma vida duvidosa. A culpa não é deles, mas dos pais.

As meninas, de um modo geral, cresciam com um porte recatado e eram possuidoras de algo misterioso que as fazia serem admiradas e desejadas, incendiando os corações dos jovens.  Hoje, é tudo ao contrário, com a liberdade sexual instalada, em que é o instinto que comanda e em que o namoro passou a significar viver em comum. Confesso que não entendo, quando decidem oficializar uma união, o facto de as mulheres desejarem tanto um vestido de noiva, mais ainda de cor branca. Nos tempos actuais, e vendo a realidade que nos cerca, na maior parte dos casos o vestido de noiva não passa de um rótulo para embrulhar um produto usado. Qual é o significado real desse rótulo? Só serve mesmo para ficar nas fotos e enganar quem andar desatento, porque outro sentido não terá, certamente. Dizia-me um amigo que uma jovem universitária, do seu círculo de amizades, lhe referiu que tinha dificuldades em arranjar namorado, pela simples razão de ser virgem, pois poucos eram os rapazes que valorizavam essa condição. Preferiam caminhos já desbravados! A que ponto chegou a moral.

Os casamentos, geralmente, eram para a vida. Hoje são para três meses ou pouco mais, ou até nem tanto, porque os sentimentos não têm alicerces e o egoísmo supera todos os outros valores. Não se considerando adequada esta situação para se formar uma família estável, não é, no entanto, de estranhar, porque quando os casamentos acontecem já tudo foi explorado, nada mais havendo para descobrir. Ambos os parceiros perderam o élan, porque privilegiaram uma mera atracção física e não o verdadeiro sentimento que se designa por amor. 

Os pais e os filhos dialogavam e interagiam de formas diversas e com naturalidade, em qualquer lado, fortalecendo as relações familiares. Contudo, nos dias de hoje é frequente vermos famílias nos cafés ou calcorreando as ruas das cidades, em silêncio, cada um dedilhando o seu telemóvel em busca de qualquer novidade ou entretenimento. Perdeu-se o diálogo, instalou-se o alheamento e as pessoas tornaram-se em autómatos.

As televisões têm grande responsabilidade nestas alterações sociais, porque apostam em programas de desprezível lixo social, que não educam nem transmitem qualquer valor ético e moral, mas empurram a juventude para um parasitismo doentio, pintando uma realidade que não existe. Criam ilusões graves quando os jovens estão a construir o seu carácter, incutindo cenários irreais que distorcem a personalidade.

A libertinagem, que é uma filha directa da liberdade excessiva, também assentou arraiais na nossa sociedade política e o resultado é o que se vê. Fazem-se leis para matar bebés e velhinhos, legalizam-se uniões antinatura, desestrutura-se a família e compromete-se o sistema democrático, corroendo-o por dentro e por fora. São estes os grandes valores europeus que a esquerda política importou desta Europa das amplas liberdades, designada União Europeia. 

O acordo ortográfico é outra barbaridade que os políticos impuseram ao país, mostrando, exactamente, aquilo que somos: – egoístas, facilitistas, irresponsáveis, líderes do menor esforço e seguidistas. Este acordo, ao destruir a língua portuguesa, destituindo muitos termos do seu verdadeiro substrato ao optar, sem qualquer base filológica, por deturpar o significado das palavras, é bem o retrato dos preguiçosos mentais em que facilmente nos transformaram. Por mim só posso dizer que não cederei um milímetro que seja a este aborto ortográfico e seguirei sempre a verdadeira língua portuguesa, tal como me foi ensinada, com o real significado das palavras. 

Os casos que ilustram este texto são uma amostra dos muitos que existem, e têm como principal desiderato alertar para as armadilhas impostas à sociedade. Cabe-nos embarcar ou não nestas alterações, o que constitui a responsabilidade de cada um. Pela parte que me diz respeito serei sempre um firme opositor a tudo quanto possa destruir a nossa identidade e a nossa língua. São princípios que não abandono, o que me faz estar de bem com a minha consciência. Poderei, eventualmente, ter exagerado na minha apreciação da sociedade, e não foi minha intenção ofender ninguém, mas é a forma como a vejo e, na qualidade de homem livre que sou, a forma como me expresso.

Não devemos, nunca, ser ervas daninhas que subtraem o alimento às plantas que dão boas sementes. Usemos a nossa liberdade de forma construtiva e não sejamos subservientes a conceitos perigosos que causam graves distorções na sociedade. Não temos que ser autómatos. Somos portadores de inteligência, de vontade, de personalidade, e só temos que saber usá-las.    

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