Sobre as eleições do passado domingo já muito se escreveu e comentou. Mas não faltam razões para que o assunto continue a ser matéria de debate. Daí a nossa visão sobre este acontecimento de suma importância para o reforço da democracia e para o exercício do poder no país.
Também nós queremos salientar e aplaudir a votação acontecida, que inverteu um ciclo abstencionista de preocupação: (44,14% – 2015) – (51,43% – 2019) – (42,03 – 2022). E se atendermos à situação particularmente delicada que vivemos no domínio da saúde, é justo considerar que, neste ato eleitoral, tivemos uma votação satisfatória, talvez indicativa de mais vontade de envolvimento cívico da população nas questões sociopolíticas, o que é sempre de saudar.
Os resultados eleitorais ditaram uma maioria absoluta. Há quem profetize que as maiorias absolutas constituem perigo, já que os governos se predispõem a ouvir menos as oposições e o protesto público. Mas também é verdade que vivemos em democracia há tempo suficiente para sabermos distinguir uma gestão de cariz autoritário de outra alinhada pelos princípios do respeito por quem diverge e sabe apontar caminhos diferentes para a governação, que até podem ser mais convenientes. Ninguém, a todos os níveis, dispõe da verdade absoluta sobre formas de gerir a coisa pública, e a procura de consensos, particularmente em questões que têm a ver com o futuro do país, pode dizer-se que é impositiva.
Se não esquecermos que continuamos a conviver com problemas bem delicados, particularmente no plano do endividamento, 127,5% do PIB, a nossa baixa produtividade e os custos cada vez maiores na satisfação mínima de condições de vida de uma população suficientemente amadurecida, temos muito com que nos preocupar e concluir que não devemos perder o sentimento de respeito pela divergência e o combate pela unidade da nação.
Aparentemente, os resultados eleitorais demonstram a vontade dos portugueses de sentir a estabilidade do governo para enfrentar desafios e procurar soluções para velhos e novos problemas. Mas, recorde-se, todos os cidadãos, por todos os meios, estão obrigados a ser parte da gestão de Portugal. A nação a que aspiramos só é possível construir-se com o contributo de todos.
Terminemos, alertando: doravante, dificilmente poderemos orientar o sentido do nosso voto em função de sondagens. Mais uma vez, o que se verificou nestas eleições deve ser motivo de séria reflexão da parte de todos nós. As sondagens falham de mais. E sobre elas devemos ter sérias dúvidas.
GFM