No próximo domingo comemoramos a revolução de abril. São 47 anos a celebrar. É um tempo longo, que quase levou ao esquecimento este ato heróico, já que boa parte da população portuguesa dele não tem memória, merecendo-lhe por isso uma importância relativa, apesar de em cada ano a data ser recordada e profusamente comentada.
Cumpre aos órgãos de comunicação social, em especial, mas também a todos aqueles que viveram na época que antecedeu a revolução, não permitir que esta seja coberta pela poeira do tempo. A revolução de abril transportou-nos da noite escura e opressora para a alvura da liberdade. E esta mudança faz toda a diferença. Basta esta mutação de regime para que jamais se possa esquecer a data de 25 de Abril de 1974.
Ainda hoje há, e haverá no futuro, quem continue a falar na obra “notável” de Salazar e, disfarçada ou abertamente, manifeste aversão à revolução dos cravos. Com o devido respeito pelo pensamento de cada um, elevar a obra de um homem que governou em regime ditatorial, que recorreu permanentemente ao crime para calar quem se lhe opunha, que nos legou um dos mais atrasados países do Continente Europeu, revela pouca adaptação ao mundo moderno, onde o conceito de desenvolvimento deve estar ativamente presente.
As sociedades não se constroem com caudilhos a exercer o poder arbitrariamente, perpetuando-se como mandantes, escudados em eleições forjadas. As nações só podem aspirar ao sucesso quando geridas por governantes democraticamente eleitos em associação com o povo que os elegeu, através das mais diversas formas de participação na coisa pública. Não há homens providenciais. Ademais, os homens que se destacam pela sua inteligência, gestão e mando não aspiram a perpetuar-se no poder, porque sabem que o poder é de todos e que a todos assiste o direito de o exercer. Homens que tudo fazem para se eternizar na governação, julgados messias, até da sua sombra desconfiam, tornando-se nefastos e inimigos do avanço das sociedades.
Foi o que Portugal teve ao longo de quase meio século. Esconjurar essa fatalidade é uma obrigação de qualquer português que advogue a causa da liberdade e queira abraçar o progresso. Estamos longe do Estado ideal, e sempre haveremos de estar, porque o Ser Humano é um ser permanentemente insatisfeito, mas não há que querer comparar o ontem com o hoje, porque o ontem era a estagnação, das contas em dia a par da miséria nativa, e o hoje é a esperança da prosperidade. Saudemos, por isso, a revolução dos cravos.