Localizam-se na margem direita do Ribeiro do Pego, lugar de Além do Rio da freguesia de Areosa, Terra de Santa Maria de Vinha. Ermida alpendrada, no exterior da Casa e Quinta da Boa Viagem, à qual pertence, implantada na encosta da Serra de Santa Luzia, virada ao mar, próxima da antiga “Via Romana Secundária”, hoje referenciada nos Caminhos de Santiago: Caminho Português da Costa.
Arriba, para montante, a magia das Cascatas e Lagoa do Poço Negro, a 160 m de altitude. E num dos cabeços da vertente ocidental e da margem norte do Ribeiro do Pego, no Monte Castro da Areosa, o Castro do Pego, da Idade do Ferro (ca. século V a.C.).
NOTA: O Castro do Pego, «Apesar de há muito ser conhecido dos arqueólogos que, por razões várias o visitaram ou a ele se referiram, nem por isso teve a “sorte” de ser escavado como os seus vizinhos de Santa Luzia e Âncora. […] tem, todavia, sido visitado por amadores ou simples caçadores de tesouros, os quais têm posto a descoberto vestígios de habitações circulares […] e algum espólio cerâmico. […]». Neste povoado castrejo, «A única vertente a dispensar qualquer tipo de defesa por ser realmente íngreme, é aquela que está voltada para o ribeiro do Pego, isto é, para sul. As restantes são bem mais suaves, a ponto de os moradores sentirem a necessidade de construírem um eficiente sistema defensivo. Este consta de uma muralha de pedra, que envolve toda a coroa. A Norte e Nascente é reforçado com um fosso que tem à volta de 4 metros de largura, cavado no fundo de um talude nitidamente artificial. A norte, há vestígios daquilo que poderá ter sido um torreão […].» (Vd. Bibl.: ALMEIDA)
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A instituição do morgado da Quinta da Boa Viagem e vínculo desta à Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem data de 1608, por testamento de Gonçalo Ferreira Villas Boas e sua mulher, D. Catarina Álvares de Seixas. Carta de Brasão em 1579.
CAPELA com alpendre, para resguardo da população e dos peregrinos a caminho de Santiago, noutros tempos visitada por marítimos devotos de Nossa Senhora da Boa Viagem, imagem na tribuna de um retábulo de planta plana, de madeira pintada de bege com molduras e filetes dourados. Invocação extensiva aos navegantes, mas também emigrantes para o Brasil (“Terra de Vera Cruz”), pintada no castelo de popa de uma réplica de nau armada, de três mastros, verga e respectivo velame. No lado da Epístola também se contemplava uma expressiva imagem de Cristo.
PÓRTICO ameiado e brasonado, com uma flor-de-lis relevada sobre a porta. Pedra de armas plenas de VILAS BOAS. Escudo ovado: Esquartelado: o primeiro e o quarto de vermelho, com um castelo de prata aberto, iluminado e lavrado de negro, a torre do meio rematada por uma palma de verde; o segundo e o terceiro, com um dragão de prata, voante, armado e lampassado de vermelho. Elmo de grades, com paquife. Timbre: o dragão do escudo, sainte, com uma palma de verde na boca. A sobrepujar a pedra de armas e o frontão, escultura de São Fernando, Padroeiro de Sevilha e outras localidades de Espanha, sustentando na mão esquerda o globo rematado pela cruz, e a espada em acção na mão direita.
A QUINTA foi valorizada com a riqueza proveniente do Brasil nas épocas seiscentista e setecentista, através de descendentes directos de Gonçalo Ferreira Villas Boas, como João Ferreira, seu filho, Provedor-Mor da Fazenda Real do Brasil, e um neto, de nome Matheus Ferreira Villas Boas, que desempenhou idêntica função depois de haver integrado a armada para a conquista de Pernambuco.
Sabemos que alguns apelidos de Família convergem com outros, como é o caso dos LOBO e BARRETO, e com a “Casa da Boa Viagem” dos Ferreira VILLAS BOAS, através de referências à Família na antiga “Casa do Campo da Feira”, em Viana. Diogo Villas Boas, em Salvador da Baía… (Vd. Bibl.: ALPUIM e VASCONCELOS). Também o SIPA refere nomes de descendentes da Quinta da Boa Viagem, que foram militares: frotas para libertar Salvador da Baía, dos Holandeses. E, na base de dados de BRASILHIS, Gonçalo Lobo Barreto, Capitão da “Nau Nossa Senhora das Neves Menor”, «Armada que partió de Lisboa hacia Salvador de Bahía para recuperarla de los holandeses» em 22-XI-1624: Frota de D. Fadrique de Toledo, que recupera Baía, em 1625.
Em 1916, a quinta foi comprada pelo Eng.º João Teixeira de Queiroz Coelho de Almeida e Vasconcelos, a uma sua prima, D. Maria Clara Coelho de Castro Villas-Boas. Foi revalorizada, incluindo o jardim de buxo e, nos finais do século XX, requalificada uma parte para Turismo de Habitação, pelo Eng.º José Inácio Teixeira de Queiroz, sobrinho-neto herdeiro, conjugada harmoniosamente com a do Solar, área agrícola e espaços de jardim, alimentados pela água de minas da encosta de Santa Luzia.
Preservam-se elementos arquitectónicos e decorativos, tardo-renascentistas, e barrocos, setecentistas. Na fachada principal, sobressai a CASA-TORRE enobrecida com merlões, adossada ao corpo central, brasonado, acedido por escadaria com mísulas de belo entalhe.
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Bibliografia:
ALMEIDA, Carlos A. Brochado de: Proto-História e Romanização da Bacia Inferior do Lima, Centro de Estudos Regionais, Viana do Castelo, 1990, a pp. 222-223.
ALPUIM, Maria Augusta; VASCONCELOS, Maria Emília de: Casas de Viana Antiga, Centro de Estudos Regionais, Viana do Castelo, 1983, a pp. 170-174.
Cargos / Base de Dados BRASILHIS: Gonçalo Lobo Barreto (Acedido: 12-VI-2023).
FERNANDES, Francisco José Carneiro: Talha – Roteiro no Concelho de Viana do Castelo, ed. Câmara Municipal de Viana do Castelo, Janeiro 2019; Heráldica – Roteiro em Viana do Castelo: Centro Histórico, Envolvente Urbana, Darque, ed. Câmara Municipal de Viana do Castelo, Julho 2021.
GEOPARQUE LITORAL DE VIANA DO CASTELO: Cascatas do Poço Negro (Acedido: 9-VII-2023). Referência Bibliográfica: CARVALHIDO, Ricardo & PEREIRA, Diamantino (2015). Contributo dos índices geomórficos para o conhecimento da geomorfologia do Litoral do Noroeste de Portugal. VII Congresso Nacional de Geomorfologia, Livro de Atlas IX, Associação Portuguesa de Geomorfólogos, Lisboa. ISSN: 978-989-96462-6-1.
SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitectónico: Viana do Castelo: Areosa: Jardim da Quinta da Boa Viagem. Autor: Pereira de LIMA, 2004. Bibl. Cit.: AZEVEDO, Carlos de: Solares portugueses, Lisboa, 1969; AZAMBUJA, Sónia: A Quinta da Boa Viagem na rota dos descobrimentos, ISA, Lisboa, 1999; CASTEL-BRANCO, Cristina, Jardins com História, INAPA, Lisboa 2002. (Acedido: 12-V-2021).
N.R.: O Autor não segue o novo acordo ortográfico