Quando, nos anos 60, os emigrantes que tinham ido, principalmente, para França, vinham de férias, depois de anos de trabalho duro, traziam um vocabulário diferente, cheio de palavras aportuguesadas, em muitos casos por não as conhecer em Português, ou utilizavam o termo francês. Depreciativamente, eram os vacanças.
Hoje, não. Hoje usamos e abusamos de palavras estrangeiras, por outra forma de ignorância, de snobismo, um pouco nouveau-riche, um pouco parolo… Como costumo dizer, há estrangeirismos, neologismos e parolismos… Os meios de comunicação, os faces, as influencers (mesmo chic!) as identidades oficiais, todos usam e abusam delas.
Começou com o “tiquê” (nem sei como escrever). Não existe esta palavra! Será ticket, que não se pronuncia dessa maneira? Conhecem as palavras bilhete, talão e senha? Devo guardar o talão de compra, para o caso de uma devolução, mas não tenho de guardar o “tiquê”, assim como tenho de tirar uma senha e aguardar pela minha vez.
Os saldos tornaram-se sales, saldos é para pobre, acompanhados das estações do ano em inglês.
Seguiu-se o take away, muito prático, muito económico graficamente e que dá azo a pérolas como take away para fora (não é fake, não). Com a pandemia refinamos e passámos às deliveries, chic mesmo, as entregas são muito demodé, pouco fashion.
Fico muito satisfeita quando, em determinadas situações, me informam que fizeram um upgrade. Há meses, já cheia destes conceitos modernistas, pus um ar angelical e respondi: “ – Não sei o que é, mas deve ser bom…” É pena não acontecer mais vezes, mas nem sempre é happy hour.
Já não se encontra um apartamento sem um open space com uma cozinhinha (kitchnette já é kitsh) onde não há espaço para se pôr em prática o que se aprendeu na última workshop do show cooking.
E será que posso pedir um chá no coffee breake?
Estes dias estive a ler mais atentamente uns flyers, pobres folhetos onde andais, uns outdoors, uns cartazes e mais materiais oficiais. Deliciei-me. Tanto se fala de património, de cultura e tanto se atropela a língua! Desde um meeting internacional, ao Rali Sunset (um pôr de sol é tão bonito!), ao birdwatching (um pássaro pouco dado a idiomas estará mais desprotegido e deixar-se-á observar melhor), aos show cookings, tudo isto sem necessidade de se levar “graveto”, pois alguns destes eventos (adoro a palavra) são… cashless… Em Viana do Castelo até temos uma Film Comission!
Como diria Eça de Queirós: Chic a valer, menino!
Mas, o que gostaríamos mesmo era de podermos andar em jardins, espaços pedonais e passeios bikeless carless e trotineteless (acabadas de inventar)
Em certos casos a silly season é o ano todo.
Fiquei com um esgotamento, desculpem, um burnout.
Isabel Campos,
antiga professora de Português e Inglês