“Devemos ser efetivos e afetivos”

Com 79 anos de idade, Carlos Barbosa assume-se como um voluntário das causas sociais. Iniciou a dedicação aos outros em 1990 na direção do Lar de Santa Teresa, terminando em 2003. Passou depois pela Cáritas Diocesana de Viana do Castelo entre 2004 e 2012. E mais recentemente passou pela Congregação de Nossa Senhora da Caridade, onde esteve de 2013 a 2021.

Os convites foram surgindo quando ainda estava na vida ativa. “Talvez o facto de ter sido criado na aldeia, ter passado por alguma instabilidade social e algumas dificuldades de viver, acabei por me aperceber do que acontecia na cidade e aceitei naturalmente os convites que iam surgindo”, afirma. Carlos Barbosa acrescenta que os anos que dedicou a causas sociais foram sempre “como voluntário” e por vezes com algum “prejuízo pessoal”. 

Carlos afirma-se como “uma pessoa ativa” e ligado às várias associações do concelho. “Estive oito anos na direção do Vianense, três na Aliança Francesa e três no Conselho de Disciplina da Associação de Futebol de Viana do Castelo. Considero-me transversal a várias áreas”, manifesta.

Durante a nossa conversa, Carlos Barbosa destacou as associações que mais o marcaram: “A Cáritas Diocesana e a Caridade”. Questionado pelas razões, afirma: “A Cáritas Diocesana eram tempos muito difíceis, havia muitas necessidades, muitas famílias desestruturadas, droga, alcoolismo, violência doméstica …. Passei por situações terríveis”.

No caso da Caridade, a experiência foi diferente. “A Congregação de Nossa Senhora da Caridade “marcou-me de um sentido positivo. Eram muitos idosos, e eu afeiçoei-me muito. Com eles recebemos mais do que aquilo que damos. Eles também se afeiçoaram a mim. É uma boa sensação”. Lembrando que “eu ia todos os dias. Só ia comer e dormir a casa”.

“Eu tenho um defeito muito grande quando vou para essas instituições é que não sou apenas tesoureiro, faço tudo. Mas isso só me prejudica”, admite o vianense, natural da freguesia de Barroselas. Acrescentando que “nós devemos ser efetivos e afetivos. Se não formos afetivos não vale a pena. Só para termos o nosso nome no jornal, não vale a pena. É preciso ter um certo traquejo para estar nestas instituições. Na noite da ceia de Natal, eu passava com os idosos e só depois é que ia para casa. Nós somos a família deles”.

No Lar de Santa Teresa também presenciou “momentos bonitos”. O vianense conta que “depois do lanche ia sempre fazer uma visita aos quartos das pessoas acamadas. Fui ao quarto de uma senhora que já não estava lúcida e ela disse-me se eu não me importava de me sentar à beira dela e dar-lhe a mão, quando de repente ela colocou a minha mão na dela, chamou-me Doutor e se eu não me importava de lhe dar um beijo. Dei-lhe um beijo na testa e depois ela afirmou, agora já posso morrer descansada. E nessa noite, ela morreu. Provavelmente confundiu-me com o médico, mas esse episódio marcou-me imenso”. 

Consciente das dificuldades porque passam as associações, Carlos Barbosa admite que é muito difícil gerir porque “o Estado serve-se das instituições e depois comparticipa com muito pouco. Hoje em dia é muito difícil, e há muitas que estão com problemas financeiros. O Estado está a contribuir com 470 euros para cada idoso que esteja internado, com as despesas é muito pouco. Quando eu saí da Caridade o custo médio era 1300 euros. Muitos não têm capacidade financeira para cobrir o resto. E não podemos aceitar apenas quem tem boas reformas”. 

“Há muitas associações que passam por muitas necessidades”, conta. Acrescentando que “algumas têm prédios arrendados e conseguem fazer essa gestão”.

Com estes anos de dedicação a causas sociais, Carlos Barbosa enaltece a função de ajudante de lar. “É uma profissão muito exigente e nem toda a gente tem perfil para a função. Ainda por cima é mal remunerada”. 

“Claro que sinto falta”, responde, admitindo que saiu da Caridade “porque psicologicamente e emocionalmente estava a ficar um bocado em baixo”, refere Carlos Barbosa. No entanto, as saudades já começam a pesar. E quem sabe não regresse a alguma instituição social. 

Reformado do sistema bancário, Carlos Barbosa conta que “sou muito ativo e não me dou em casa”, contudo agora dedica-se aos passeios no jardim e à leitura.  

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