“Espero voltar, enquanto ator, ao lugar onde cresci”

Do palco para a vida, Rafael Gomes, natural da freguesia de Anais do concelho de Ponte de Lima, tem já um longo percurso, no panorama da representação nacional.

No ano de 2013, licenciou-se em teatro na Escola Superior de Teatro e Cinema, e em 2015 frequentou o mestrado em Estudos de Teatro na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 

Com apenas 30 anos, o jovem Limiano, integrou e participou em grandes palcos que o fortaleceram enquanto ator. Atualmente integra o elenco que compõe a segunda temporada da série histórica “3 Mulheres”, que estreou no dia 20 de abril, na RTP. Em conversa com Rafael, ficamos a conhecer alguns dos projetos e o desejo de voltar a pisar o palco na vila de Ponte de Lima. 

Quando surgiu a paixão pela representação?

Desde pequeno que senti uma enorme paixão, e muito por influência do meu pai. E logo apareceu a vontade de pisar o palco, de explorar a possibilidade de aceder a novos mundos e representar outras vivências que não as minhas. Lembro-me de assistir, quando tinha os meus 7/8 anos aos ensaios dele no grupo de teatro amador e a determinada altura substituí um dos atores que faltava. Eu fiquei tão entusiasmado que caí quando entrei em cena. E provavelmente, foi esse momento que espoletou  a ideia de poder vir a ser este o rumo da minha vida. 

Qual foi a importância do seu pai no percurso profissional?

Foi fulcral até porque foi ele que me despertou, desde muito cedo, para a poesia e para o teatro, alimentando esse interesse pela arte e pelas coisas não tangíveis. Inctivava-me a decorar poemas da Sophia de Mello Breyner para que eu os pudesse dizer nas festas da escola e no seguimento disso, por volta dos meus 10 anos, comecei a participar nos seus espetáculos de stand up comedy com pequenos números. Um deles, e possivelmente o primeiro que fiz, era a “Viagem do Aldeão”, texto interpretado pelo Raul Solnado nos anos 60. Recordo-me que nessa minha estreia estava sozinho em palco, e que a determinada altura me esqueci do texto. Parei, assumi a minha falha, comecei a rir e uns segundos depois continuei como se nada tivesse passado. Lembro-me de ouvir uma gargalhada sonante do meu pai nos bastidores e de alguma forma, tive a certeza de que aquele lugar de fruição, mas também de falha era onde eu queria estar.

Teve de sair de Ponte de Lima para ter mais oportunidades?

Com 18 anos mudei-me para Lisboa e senti que a Escola Superior de Teatro e Cinema seria o sítio certo para investir na minha formação artística e profissional. Nunca tinha viajado sozinho e muito menos vivido por minha conta, mas essa decisão foi determinante na minha vida. Encontrei na capital, o verdadeiro significado da palavra liberdade, mas ao mesmo tempo, senti da forma mais evidente a ligação forte e indizível que tenho com Ponte de Lima e com as pessoas que me viram crescer. 

Tem ambição de voltar a atuar na vila limiana?

O teatro Diogo Bernardes foi o primeiro teatro que visitei e a última vez que o pisei enquanto ator ainda estava no grupo de teatro amador, há sensivelmente 12 anos. Voltei lá em novembro de ano passado com o espetáculo “Pranto de Maria Parda”, na função de assistente de encenação, mas espero voltar, enquanto ator, ao lugar onde cresci pessoal e artisticamente e poder partilhar esse momento especial com amigos e família que me acompanham desde sempre. 

Como surgiu a participação na série “3 mulheres”? Quer falar-nos um pouco sobre a história da série?

Em 2017 fiz um casting e fui escolhido para a personagem do José António Correia. Nesse ano gravámos a primeira temporada da série que é baseada em factos reais e segue a vida da poetisa Natália Correia, da editora Snu Abecassis e da jornalista Vera Lagoa, mulheres que tiveram papéis importantes seja no social e na política durante a queda do Estado Novo. Nesta segunda temporada, que estreou a 20 de abril na RTP, a série foca-se no período Pós-Revolução e no período histórico entre o 25 de abril de 1974, “O dia inicial inteiro e limpo”, com o derrube do Estado Novo pelo Movimento das Forças Armadas, e o ano de 1982, com o fim do Conselho da Revolução e a primeira revisão da nova Constituição. Anos convulsos e transformadores da fundação da Democracia numa época que trouxe uma interrogação nova: “O que fazer da Revolução?”. Estas três mulheres viveram intensamente esse tempo de mudança e esta 2.ª temporada retrata a procura por essa resposta, do Período Revolucionário em curso até à consolidação da Democracia no início dos anos 80.

Qual é a sensação de contracenar com grandes nomes da representação Portuguesa?

É sempre uma honra trabalhar com pessoas que admiramos e nesse sentido tenho sido um felizardo por encontrar colegas e amigos em diferentes projetos, que apesar do seu reconhecimento, mostram-me todos os dias que o trabalho só faz sentido quando é alicerçado por valores como empatia e humildade. 

Já participou em séries, filmes e fez diversas peças de teatro. Qual foi o trabalho que mais o marcou?

Foram vários os projetos que me marcaram a nível profissional e pessoal e nomeá-los a todos seria uma tarefa difícil. E como olho para o futuro com a esperança de que o melhor está por vir, gostava de referir alguns projetos recentes que retratam e/ou são dirigidos por mulheres especiais: a série “Nem a gente janta”, da realizadora e atriz Inês Sá Frias e que está disponível na RTP play. A série “Três Mulheres” que estará disponível todas as quartas-feiras, às 21h, na RTP1, ao longo de 10 episódios. E destaco também o espetáculo “Ainda Marianas”, que parte da obra Novas Cartas Portuguesas, para o qual fiz assistência de encenação a Catarina Rôlo Salgueiro e Leonor Buescu e que estreou no dia 21 de abril, no Teatro Nacional D. Maria II em Lisboa.  

Foto: Stefano Padoan

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