Falando de cinema: “Listen”

Este filme de 2020, mais que tudo, é uma critica mordaz dirigida aos Serviços Sociais Ingleses, pela sua atuação discricionária e maniqueísta, nomeadamente quando optam por retirar os filhos menores aos Encarregados de Educação, alegando princípios de cariz puritano e baseando-se em indícios subjetivos, gerando a angústia no seio familiar.

A família que vai estar na alçada dessas instâncias é constituída por um casal de portugueses, com três filhos, a viverem na Inglaterra, ao qual os Pais Bela e Jota, com trabalhos bastante precários, enfrentam consideráveis problemas financeiros, com a agravante da sua filha do meio, com sete anos de idade, ser completamente surda e, simultaneamente, pelo seu filho mais novo ser um bebé com apenas seis meses de vida. Ora, este panorama periclitante obriga a um acompanhamento mais incisivo e diligente dos serviços sociais para se inteirarem da existência de condições mínimas para os progenitores dotarem os seus educandos de um nível de bem-estar satisfatório e duma atmosfera familiar salutar.

Todavia, a situação melindrosa da sua filha surda vai despoletar uma ação desproporcional por parte das autoridades, ocasionado por uma ocorrência na escola que a menina frequenta, pois, ao detetarem que esta anda com um aparelho auditivo estragado, e além disso ao verificarem que as costas dela estão repletas de escoriações, reportam imediatamente essa informação aos serviços competentes, julgando que a rapariga é vítima de maus-tratos.

Enquadrados num cenário desolador e áspero, Bela e Jota ficam num ápice sem os seus filhos, para desespero das crianças e agonia dos seus Pais, mas, apesar do desnorte e estado depressivo do casal, estes estão decididos a não “deitar a toalha ao chão”.

Sendo concedido pela Instituição visitas estipuladas aos seus filhos, esses encontros de breves instantes são de tal ordem estritos, que, ao notar-se qualquer resquício de tensão, acabam por ser terminadas de modo rompante, acicatando a indignação de Bela, por não conseguir comunicar principalmente com a sua filha surda.

Contudo, num dos esparsos telefonemas, Jota descobre uma advogada que é sensível às causas deste tipo de casos, chamada Anne, que aceita acudi-los, cobrando ao casal um valor meramente residual. Mas nesse ínterim, Anne indica que a tarefa para recuperar os seus filhos não se vislumbra nada fácil, pois a legislação em vigor dá pouca margem de manobra, afirmando que o filho bebé poderá estar em vias de ser dado para adoção.

Todavia, as notórias dificuldades dos Serviços Sociais em lidarem com a menina surda, conjugado com a constatação de que afinal as manchas que esta apresenta nas costas são devido a uma patologia de pele, serve como incentivo para o casal ter a chance de reaver pelo menos dois dos filhos.

O exemplo desta história demonstra, de forma inequívoca, que, apesar duma família passar por contingências pecuniárias atribuladas, é preferível apoia-la economicamente, como estímulo provisório, do que inviabilizar essa relação elementar das crianças com os seus pais, podendo os menores, a concretizar-se essa mudança forçada e abrupta, estarem sujeitos a viver com traumas profundos.

Alcino Pereira

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