O passado é um país estranho, habitado por muitos fantasmas. Guerra Junqueiro é para muitos portugueses um destes fantasmas. As questiúnculas políticas e religiosas ampliaram o efeito erosivo do tempo na sua obra. Os seus discursos políticos e as suas reflexões doutrinárias associadas à sua verbe satírica e panfletária ajudaram a criar a bruma do esquecimento que envolve o autor.
Dissipar essa bruma, passa por conhecer a sua obra, refletir sobre o conteúdo da sua mensagem, mas também sobre o homem e a sua circunstância, numa análise regressiva ao tempo e ao espaço em que viveu.
No tempo em que alastra a cultura do cancelamento, importa contrariar essa imbecilização do pensamento, dando a conhecer a obra do poeta e a pessoa plurifacetada: formado em Direito, pensador, homem da ciência, colecionador, agricultor e viticultor, deputado e diplomata.
No centenário da morte de Guerra Junqueiro (1923-2023), o programa de comemorações inclui diversas iniciativas a realizar até 2024, no Porto, Freixo de Espada à Cinta, Lisboa e Viana do Castelo.
Neste sentido, o colóquio Guerra Junqueiro e Viana do Castelo, realizado na manhã de sábado, 9 de dezembro, na Sala Couto Viana, da Biblioteca Municipal, pretendeu evocar a ligação do poeta com a cidade, onde residiu e trabalhou uma parte sua vida.
Ao longo da manhã, com moderação de Rui Viana, aconteceram as Conferência de António José Barroso, “os livros de Guerra Junqueiro numa Biblioteca vianense”, Henrique Manuel Pereira, “Guerra Junqueiro colecionador: entre Viana do Castelo e Espanha” e de Manuel Curado, “Guerra Junqueiro e João da Rocha: Interesses espiritualistas Comuns”.
Os preletores trouxeram-nos uma reflexão densa e muito proveitosa para melhor entendermos a carreira literária do autor, a sua intervenção cívica e política, de idiossincrasia controversa, que complementam o seu pensamento poético.
Viajamos pela obra do poeta na sua fase do tom intimista, metafísico e religioso, numa peregrinação espiritual que cruza o romantismo com as impressivas paisagens ruralistas de finais de oitocentos, que “Os Simples”, publicado em Viana do Castelo tão bem retrata.
Retivemos as estórias, verdadeiras e criadas, que evocam os traços singulares da sua personalidade e descobrimos afinidades na busca pelo conhecimento. Foram 3 horas no lugar certo.
Manuel Vitorino
Vereador da Cultura da CMVC