No início desta semana passada, fomos surpreendidos com a triste notícia do falecimento da jornalista e escritora Leonor Xavier (1943 – 2021), cujo percurso profissional e literário conferiu um importante impulso à afirmação da mulher portuguesa na diáspora.
Nascida em Lisboa, Leonor Xavier licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Em março 1975, no decurso da Revolução de Abril, emigrou na companhia do marido, o advogado Alberto Xavier, professor de Direito da Universidade de Lisboa e antigo titular da Secretaria de Estado do Planeamento, e os três filhos, para São Paulo, no Brasil.
Na capital paulista, viveu como recordaria mais tarde, quatro anos “decisivos na minha história de mulher”, passando de dona de casa para professora particular de francês e revendedora porta-a-porta de recipientes tupperware. No Rio de Janeiro, para onde se mudou em 1979, encetou o seu percurso como jornalista, tendo sido correspondente do Diário de Notícias, colaboradora da revista Manchete, do Jornal do Brasil e redatora do jornal Mundo Português.
Paralelamente à careira jornalista, no âmbito da qual recebeu por duas vezes o “Prémio de Melhor Jornalista da Comunidade Portuguesa no Rio de Janeiro”, publicou em terras de Vera Cruz os seus primeiros livros, mormente os ensaios Atmosferas e Entrevistas, e o romance Ponte aérea. Regressada a Lisboa em 1987, ano em que foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem do Mérito, colaborou com as revistas Máxima, Vogue, Sábado e o Jornal de Letras, escreveu os romances O Ano da Travessia e Botafogo, e assinou as biografias de Maria Barroso (Um Olhar Sobre a Vida), Raul Solnado (A Vida Não Se Perdeu), de quem foi companheira, e do político Rui Patrício (A Vida Conta-se Inteira).
Vencedora em 2010 do Prémio Máxima de Literatura, com o livro Casas Contadas, e em 2016 do Prémio Frei Bernardo Domingues, com a obra Passageiro Clandestino, e autora de várias comunicações em congressos sobre a emigração portuguesa para o Brasil, a sua experiência migratória em terras brasileiras inspiraram vários dos seus trabalhos literários. Como a mesma asseverou em entrevista no alvorecer da década de 2010: “O emigrante é o meu discurso interior”, até porque “um livro que se escreve não é só uma narrativa de factos. O discurso interior é o compromisso com todas as situações que vivi”.