O conceituado realizador espanhol Pedro Almodôvar regressa de novo à ribalta com o filme “Madres paralelas” de 2021, que realça o caráter íntegro da protagonista principal, como eixo fundamental para um salutar desenvolvimento desta arriscada história, interpretada pela bela atriz Penélope Cruz, a figurar como Janis. Trata-se de uma fotógrafa prestigiada das revistas cor-de-rosa que, já perto da meia-idade, aparenta conservar os atributos conformes à sua componente sensual. Afirmando-se com um perfil independente, deixa transparecer um envolvimento sério com um parceiro, optando por, efemeramente, ter affairs com outros homens.
Paralelamente, envereda por uma regular atividade cívica, juntando-se a uma associação instituída nos arredores de Madrid que pretende homenagear os restos mortais de combatentes da Guerra Civil Espanhola, para achar, no caso dela, o local onde foi despejado o corpo baleado do seu bisavô e proceder às respetivas escavações.
Contudo, insinuando-se a um arqueólogo engatatão que está incumbido de tratar da logística de remoção e trasladação dos cadáveres, Janis, fruto dessa relação ocasional, engravida. Contudo, ao constatar essa realidade, vê com bons olhos essa bênção, proporcionadora de um novo alento à sua vida, mas sem o apoio explícito do companheiro de ocasião que, devido à sua característica de conquistador nato, demonstra alguma relutância em assumir a paternidade do feto em gestação.
Decorridos alguns meses, Janis encontra-se num quarto duma maternidade com outra jovem mãe solteira, chamada Ana, acabando ambas, em simultâneo, por dar á luz sem a companhia dos respetivos progenitores. Esta casualidade deixa-as radiantes, estreitando um profícuo entendimento, trocando contactos para futuros enlaces.
Com tudo a correr bem, Janis, entusiasmada, recebe a visita do pai da sua filha, que veio expressamente a Madrid para olhar com toda admiração para a menina, já com seis meses de vida, só que, para espanto dele, não vislumbra nenhum traço na fisionomia da bebé que se assemelhe a ele, nem tão pouco a Janis, manifestando a esta essa desagradável sensação.
Intrigada com a observação, Janis entende fazer um teste de ADN, confirmando-se os piores receios quando se dá conta do resultado do laboratório acerca dos fortes indícios que apontam ela não ser a mãe biológica da bebé que está ao seu cargo.
Janis claramente chocada com esta pungente evidência, pela primeira vez sente a sua vida a desabar. Mas, apesar desse enorme abalo, ocorre-lhe a possibilidade de os bebés terem sido trocados, designadamente com a sua colega de quarto, Ana.
Sem vacilar, estabelece de imediato contacto com a amiga, mas para sua estupefação, Ana conta-lhe que a sua bebé faleceu vítima de trágica doença. Perante isso, e plenamente convencida que a ex-companheira de quarto no decurso do parto é a mãe da bebé, que perfilhou por equívoco, Janis reforça a sua amizade com Ana, no sentido de que esta, naturalmente se aproxime da sua verdadeira filha.
Conclusão: a atitude inteligente e pragmática de Janis vem demonstrar que este deve ser o comportamento prevalecente em situações delicadas, particularmente quando estão em causa valores mais altos, mesmo que a título pessoal muito nos custe.