Esteve pouco tempo ao serviço de terceiros, porque a sua vida privada não lhe permitiu. Porém, esse era um sentimento que cultivava intrinsecamente. Quem o conhecia sabia da sua integridade e da sua vontade de amenizar dificuldades aos mais carecidos, apesar de exigente nas tarefas a que se dedicava com afinco, comportamento nem sempre compreendido por quem com ele lidava.
Na década de 1970, pouco depois da instalação da democracia no país, como Engenheiro Mecânico, era funcionário dos ENVC. Nesse tempo, todos procuravam estabilidade no trabalho, porque uma revolução traz sempre efeitos perturbadores na governação do país em que ocorre. Vitorino Reis não temeu essa conjuntura e abandonou a empresa. Procurou novo rumo para a sua vida; numa primeira e extensa fase, longe de Portugal, felizmente com sucesso. Voltou bem mais tarde e por cá procurou novos enquadramentos profissionais. Quando o encontrávamos, com a confiança própria de quem acreditava no seu real valor, sorridente, afirmava que tudo corria bem. Aos ENVC nunca mais pensou voltar, porque o seu mundo era outro bem distinto.
Logo que se reformou disse-nos que, tal como seu irmão, com obra de mérito na Santa Casa de Misericórdia de Braga, também ele queria abraçar as causas sociais. Pouco depois, após a morte de Oliveira e Silva, aceitou substituir este como Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Viana. Aí, sem perda de tempo, juntamente com a equipa que o acompanhava, fez um trabalho marcante, particularmente no domínio da restauração do edifício onde a Instituição está instalada, um dos mais antigos da cidade, construído em 1589.
Em 2013, a pensar na recuperação do antigo Pavilhão Cirúrgico, tentou um novo mandato para solucionar vários problemas da Entidade que geria e, particularmente, acudir às carências da cidade em termos de apoio à velhice e apoio às doenças degenerativas (Alzheimer e Parkinson). Imprevistamente, veio a perder as eleições e o projeto sonhado ruiu de todo, numa demonstração de que Viana convive mal com o progresso, sempre mais apostada em acarinhar jogos de capelinha.
Vitorino Reis, decorrido pouco tempo, particularmente depois da morte da esposa, foi atraiçoado com uma doença de caris demencial, contra a qual se bateu corajosamente, mas em batalha perdida. Viveu os últimos tempos da vida amargurado por não ter podido dar mais à Viana que tanto amava. Contrariando algumas opiniões, o que se pode dizer é que era um cidadão de alma grande e de generosidade profunda. Isso ficou suficientemente patente no livro autobiográfico que escreveu enquanto a saúde lhe permitiu, que ficará para memória futura da família mais chegada e de alguns amigos. Partiu agora, legando-nos a amizade que nunca negou a ninguém e a ausência de ódios que nunca soube cultivar, a par do seu sorriso aberto e divertido. Sentidamente, um abraço solidário para a família que ele tanto amava.