O país vive as dores decorrentes de um parto prematuro, confrontando-se com a interrupção involuntária de um governo desgastado e meio perdido, devendo a si próprio o estado anémico a que chegou, motivado pela sua própria arrogância. Nem mesmo levado ao colo pelo optimismo de alguns responsáveis políticos conseguiu resistir a uma gestação normal, e, vai daí, abortou! Esta é a situação de uma inesperada anormalidade, agora com medicação específica, ou seja, o recurso a técnicas de fertilização para uma nova gravidez que se deseja com menos riscos, que o mesmo é dizer irmos a eleições para que o país estabilize.
Deseja-se menos riscos, mas, na verdade, são diversos os pretendentes à paternidade, que, verdadeiramente, podem vir a atropelar-se e provocar outro aborto que ninguém deseja.
É o cidadão comum quem decidirá qual a composição da Assembleia da República de que resultará o novo governo, através da força do seu voto livre. E se tiver em atenção o imbróglio em que o país se encontra e os grandes desafios que o aguardam, irá pensar se vale a pena votar nos pequenos partidos que não oferecem garantias de estabilidade política, ou tornar o seu voto muito mais útil, confiando-o a um dos partidos da área do poder.
Penso que uma maioria suportada por dois partidos confiáveis e bem implantados na sociedade seria o ideal, porque se tal maioria fosse de um só, correr-se-ia um risco, já que existe sempre a tentação de se tornar autista. E, sendo dois partidos, há uma abrangência de outras sensibilidades e de uma governação mais justa.
A dispersão de votos por todos os pequenos partidos tem sido uma realidade, mas que nada ajuda na presente crise. São votos que se perdem e que fazem falta aos grandes partidos, sobretudo PSD e PS, porque, queira-se ou não, são os mais capacitados para assumir as rédeas da governação do país, com experiência empírica em todos os campos. Deixemo-nos de paixões e sejamos práticos na escolha do partido que desejamos que nos governe, dando-lhe o nosso voto. E não vai ser nenhum dos pequenos que vai assumir essa tarefa.
Todos sabemos que o Primeiro-Ministro está todo inclinado para a esquerda, e tanto se inclinou que até meteu água e naufragou. Pode ser que o inesperado da situação o tenha despertado para as consequências do seu radicalismo e acredito que, se voltar a ser governo, se redima, privilegiando a boa convivência democrática com o centro-direita, que constitui o outro prato da balança.
O PSD, com uma ordem de valores diferentes das políticas das esquerdas, é o polo opositor ao socialismo, e, sempre que foi governo, deixou o país mais limpo, mais arrumado e mais bem direcionado para o futuro. Não se esqueçam os leitores de como António Guterres e José Sócrates deixaram o país no pântano ou de tanga… que o PSD teve de limpar com grandes sacrifícios para os cidadãos, sendo ainda hoje, injustamente, censurado pelo seu pragmatismo.
Temos, assim, dois grandes grupos políticos em que os portugueses se devem rever: – o grupo político conservador (centro-direita), liderado pelo PSD, e o grupo político trabalhista (esquerda), liderado pelo PS. Um destes grupos políticos irá de certeza liderar a governação, pelo que o voto útil num deles me parece essencial, sob pena de nos confrontarmos com uma nova situação abortiva que só penaliza os cidadãos e o país, mais ainda quando a Comissão Europeia colocou à disposição de Portugal enormes recursos financeiros que se torna necessário aplicar de forma racional, gerando oportunidades únicas de progresso e desenvolvimento socioeconómico que jamais se repetirão.
Sem paixões nem ódios, tenhamos a capacidade de olhar para a situação real que nos envolve e admitamos que não é altura para nos distrairmos com paixões político-partidárias em excesso, mas enveredarmos por um caminho prático visando um futuro mais promissor. E esse caminho passa muitas vezes por abdicarmos daquilo que nos dá gozo e concentrarmos a nossa atenção no que pode ser mais útil para o bem-comum.
Não queiramos viver sobre o fio da navalha, sabendo que todos temos agora uma rara oportunidade que devemos aproveitar, e isso passará por termos uma desejável composição maioritariamente conservadora ou trabalhista da Assembleia da República, donde possa emergir um governo estável para quatro anos. E a chave para o sucesso está no nosso voto bem aplicado e não disperso pelos extremismos.