Os domingos gastronómicos de fevereiro e a descentralidade de Viana

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Há trinta , quarenta ou ainda mais anos , em Viana do Castelo,   Fevereiro era o mês da mimosa e os domingos eram gastronómicos.  Lampreia, Cozido, Sarrabulho e Cabrito, eram as ementas que vários restaurantes de Viana, faziam questão de apresentar em cada um deles, a forasteiros e residentes.

Todos  esses domingos traziam pequenas multidões a Viana  que , de uma forma geral, passavam pelo monte de Santa Luzia e ornamentavam  os automóveis com mimosas que, estando em flor, exalavam um aroma peculiar e agradável e, regalavam a vista de quem as recolhia.  Durante a tarde, ranchos folclóricos enchiam de povo a Praça da República e exibiam-se com toda a cor, ruído  e esplendor  . Era bonito e a cidade tinha sempre muita gente nestes dias. Creio, que a organização destes eventos estava a cargo da Câmara Municipal e da Região de Turismo do Alto Minho.  Ainda antes do final do século, a  Região de Turismo , provavelmente  pressionada pelos outros concelhos do distrito, resolveu  alargar estes eventos a essas áreas. Os domingos gastronómicos já não eram só em Fevereiro, demoravam até Maio, e a Viana do Castelo cabia-lhe a realização de um deles. Mimosas nem vê-las, até porque foram consideradas  pragas e se procedeu à sua eliminação. Sem querer (ou não), quebrou-se uma tradição que além da notoriedade que aportava a Viana, trazia também um empurrão à economia local, sobretudo cafetaria, restauração e afins que suspirava pelo maior número possível de domingos de festa . Hoje, não temos qualquer dia destinado à gastronomia de Viana mas, se tivéssemos, o que íamos propor ?  Só se for o Bacalhau à Gil Eanes, porque os cardápios mais sonantes estão espalhados pelos outros concelhos.  Em Esposende são os produtos da pesca e do  mar, Melgaço com o cozido à portuguesa, Ponte de Lima com o sarrabulho, Monção e Caminha com a lampreia, etc. Além disto e, não menos importante, é a existência de alguma organização que impulsione  a ideia e, não me parece haver ninguém interessado. É a famosa passividade dos Vianenses.

Se não perdemos, pelo menos está muito diminuída a nossa identidade gastronómica (e não só).  Ou, como disse  o Dr. Defensor Moura  (ex-presidente da câmara ), Viana perdeu a sua centralidade. Perdeu?

A extinção da RTAM e a inclusão na Região de Turismo Porto e Norte de Portugal não ajudou em nada (neste aspecto), antes pelo contrário. Outras visões, outros tempos !

Que a vários níveis se nota um aumento de notoriedade dos outros concelhos que não Viana, só não vê quem não quer ou anda distraído e, assim, o conceito de capital do distrito diluiu-se , provavelmente a caminho de uma nova forma de entendimento e colaboração entre os vários concelhos.

Oxalá que as manifestações de índole gastronómica não se percam , elas fazem parte do nosso património cultural pelo qual devemos lutar e , pelo menos, manter.

Gostaria de não ficar condenado a futuramente vir a comer  hambúrgueres, vegan ou macrobiótica. Ainda continuo a salibar por um bom bacalhau à Margarida da Praça, ou por fanecas fritas com farinha de milho, como só se faz no Faneca na Ribeira de Viana. (leia-se Restaurante Foz do Lima).

 

Joaquim Ribeiro

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