Ao falar de peste logo me vem à memória o “Livro do Apocalipse” (ou da Revelação), do apóstolo João, e também o livro “Os quatro Cavaleiros do Apocalipse”, do escritor espanhol, Vicente Blasco Ibañez, e do filme do mesmo nome, com base nesta obra literária, realizado por Vicente Minelli, nos Estados Unidos da América, no ano de 1962, há 58 anos, portanto.
O livro do Apocalipse, escrito numa caverna, na ilha de Patmos, Grécia, pelo Evangelista S. João, que aí se refugiou às perseguições do Imperador Domiciano (na virada do ano 100 para o século II), é, sem dúvida, um livro misterioso, com cenas medonhas e figuras bizarras. O Livro do Apocalipse, no contexto das perseguições aos cristãos da Ásia Menor, tem a forma de carta, e tem como objetivo consolar os cristãos perseguidos, a quem S. João tinha prometido o regresso, em breve, de Jesus Cristo e a vitória para todo o sempre do cristianismo e da paz. Só que essa promessa tardava muito em concretizar-se e a desesperança passou a grassar pelas referidas comunidades cristãs.
Porém, o livro “Os quatro Cavaleiros do Apocalipse”, um romance, é da autoria de Blasco Ibañez, um espanhol, de Valência, nascido no século XIX (1867) e falecido em Menton (França) no século XX (a 28 de Janeiro de 1928, com exatamente 61 anos), que ficou na história como ativista político (deputado e ferrenho opositor da monarquia reinante), jornalista e escritor. O tema dominante do livro é a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918, mas o filme foi adaptado – brilhantemente diga-se – à Segunda Guerra Mundial e aos tempos do Nacional-Socialismo, inspirado por Adolfo Hitler, o Fürher alemão. A narrativa histórico-romanceada passa-se na Argentina, no seio de uma família aristocrata, que se divide entre adeptos do nazismo e seus opositores.
E quem são os quatro cavaleiros do Apocalipse? São a Guerra, a Fome, a Peste e a Morte. Estas palavras, por si só, aterrorizam qualquer vivente. A Guerra é o mal absoluto e os restantes cavaleiros/as são a consequência terrível disso mesmo.
Que os leitores me perdoem a gabarolice (se é que o é…), mas acontece que tive a oportunidade de, ainda jovem, ter lido o estranho livro do Apocalipse, o livro do Blasco Ibañez e visto, em 1962/63, esse filme portentoso de Vicente Minelli. No final dos anos 90, já Pai de 3 filhos, haveria de visitar a ilha de Patmos e o seu monte muito íngreme, bem como o Mosteiro Ortodoxo e a caverna escura onde S. João teria escrito o dito livro. Pela mesma ocasião, visitaria a curiosa e bíblica cidade de Éfeso, na qual esse Apóstolo tinha sido Bispo.
Perguntarão os leitores: e a que propósito vêm todas estas histórias?
Primeiro: para concluirmos, sem esforço, que os vírus, as viroses, as bactérias, os bacilos e outros minúsculos animaizinhos são de sempre e sempre existirão, porque são da natureza que nos envolve a todos; que o ser humano é um animal de sucesso, com fibra de vencedor e humilde perante a grandeza do Universo, cujos limites espaço-temporais são de todo desconhecidos; que, apesar de tudo, e com consciência das nossas fragilidades, temos necessidade de acreditar, sem dogmas e castigos, num Ente Superior a tudo e, por mais que alguém jure ser valente e corajoso, nunca queremos nada com a Cavaleira Morte. E isso causa muito respeitinho, que se vê nas precárias saídas às ruas vazias ou nas profusas imagens televisivas.
Segundo: aproveitemos por, nesta clausura forçada mas muito tolerável em face de um bem maior (a saúde e a vida), nos distrairmos um pouco, vendo séries interessantíssimas e de grande qualidade ou filmes de décadas passadas, tais como: As Violetas Imperiais, O Terceiro Homem, Casablanca, Ladrões de Bicicletas (anos 40); Um Eléctrico Chamado Desejo, Serenata à Chuva, Quanto Mais Quente Melhor, O Crepúsculo dos Deuses, Rio Bravo, os 400 Golpes (anos 50); Música no Coração, 2001-Odisseia no Espaço, Boneca de Luxo, A Ultrapassagem, A Grande Evasão, Ben-Hur, Blow-up, Quo Vadis (anos 60).
Sentimos muita consideração e estima por todos os que estão no seu posto de trabalho, seja qual for, tratando de todos nós de uma maneira ou outra. Pouca coisa eles nos pedem: que estejamos em casa e que evitemos ser contagiados ou nós contagiarmos outros. É assim tão duro? Então experimentem o óleo de fígado de bacalhau, o óleo de rícino e o colar de alhos para afugentar as lombrigas (anos 40 e 50).