José António Amorim Gonçalves Novo foi o homenageado pela Junta de Freguesia de Santa Marta de Portuzelo com o Prémio Vida 2023. O ato ocorreu no dia 28 de julho, integrado na Semana Cultural. Estiveram presentes a vereadora Carlota Borges, em representação da câmara municipal, presidente da junta de freguesia, Nuno Ferraz e restante executivo, presidente da assembleia de freguesia, Pedro Rocha e membros da respetiva assembleia, presidente da comissão de festas e pároco, P.e Christopher Sousa, além de familiares e amigos, que puderam usufruir de momento musical interpretado por Pedro Parente, a cursar em Madrid. Dado o seu estado de saúde, o laureado, Sr. Novo, foi representado pelo neto Daniel, sendo a sua ausência duplamente sanada com a sua memória e imagem exposta em fotografia.
Segundo soubemos, na decisão do executivo pesaram, sobretudo, o compromisso, a disponibilidade e a(s) iniciativa(s) do laureado, ao longo de vários anos, para minorar as dificuldades por que passavam algumas famílias da freguesia, perante a fome e a doença.
A caridade é amor e requer discrição, além de recato, que também aqui usaremos. Apenas dizemos que da iniciativa do Novo nasceu a “Campanha dos Amigos do Pinheiro”, que esteve na génese do atual Movimento de Caridade Cristã, o que, só por si, seria fundamento suficiente para subscrevermos a justeza da sua nomeação, mas tal não é tarefa nossa. Melhor que as nossas palavras, deixemos espaço para as do J. A. Novo. Tal permitirá que os assinantes e leitores avaliem por si e constitui pequena homenagem de A Aurora do Lima.
Extratos de 2 artigos de J.A.Novo, publicados no Betânia do Lima, nas edições, respetivamente, de novembro de 1972 e de janeiro de 1973:
«Cartas p’ra longe… e perto – “Está próximo o Natal”
Amigo leitor e emigrante, em muitas freguesias existe a «Cruzada de bem fazer» para amenizar, em horas trágicas, a desventura de muitos e pelo menos no Natal, «ele» tem sempre coisas para distribuir.
Aqui, na tua e minha freguesia nada existe que possa apagar pelo menos nessa noite, a tristeza do dia-a-dia de quem a sofre.
Que devemos fazer então? Santamartense, se o és com dignidade e se tens coração capaz de amar alguém, lembra-te que ainda há pobres e inválidos na tua freguesia e que esperam pela tua ajuda. Procura o teu amigo que não sei e que não vem cá passar o Natal; transmite-lhe o que diz o «Betânia» e tenho quase a certeza de que ele te fará portador duma pequena quantia, ganha à custa de tanto sacrifício, para a entregares junto com a tua no local que se designará para recolha desses e doutros. Um pinheirinho pequeno, simples e sem enfeites, será colocado no local que se designar para esse efeito, esperando que o enfeites com a tua dádiva. E não custara muito que no dia 10 de dezembro – dia esse designado por mim – tu tragas qualquer género alimentício ou donativo e o coloques junto do pinheiro. »
«As lágrimas dizem: Obrigado
Graças à generosidade de alguns, que souberam compreender a dor alheia, contribuindo com notas de cem, cinquenta e vinte escudos (poucos deram menos do que isso) e ao gesto impressionante de um emigrante – que é pobre e mandou cem francos – e de outro que enviou vinte, foi possível distribuir uma consoada muito razoável.
As consoadas – distribuídas conforme as necessidades de cada caso – constaram de bacalhau, batatas, arroz, açúcar, cobertores, peúgas… e ainda uns mimos para doentes.
As lágrimas, que se viram rolar pelas faces de alguns, são o mais valioso obrigado.»
Para o Sr. Novo, além das felicitações, a solidariedade na doença.