O primeiro-ministro António Costa vai estar hoje em Paredes de Coura para inaugurara a primeira fábrica de vacinas do país.
Quase três anos depois de ter sido anunciada ainda em plena pandemia de Covid-19, a fábrica de vacinas da biotecnológica Zendal em Paredes de Coura, que esteve nos últimos seis meses apenas em fase de testes, obteve há cerca de três semanas o licenciamento industrial por parte do Infarmed e “está capacitada para começar a produzir”, adianta ao ECO o presidente da Câmara, Vítor Paulo Pereira.
Este investimento avaliado em perto de 25 milhões de euros, que já permitiu a criação direta de 50 postos de trabalho “altamente especializados” no Alto Minho, foi construído no Parque Empresarial de Formariz, onde a empresa que produziu o antígeno da vacina Covid desenvolvida pela americana Novavax é agora “vizinha” das unidades industriais do grupo de calçado Kyaia (dono da marca Fly London) e das fábricas da Doureca e da Akwel, ambas produtoras de componentes para a indústria automóvel.
O autarca de Paredes de Coura, no distrito de Viana do Castelo, frisa que “os lotes são sujeitos a testes e a verificações, e quando estiverem cumpridos todos os procedimentos, a Zendal pode começar a vender e a exportar”. “Se tudo correr bem, a primeira vacina desta fábrica estará no mercado nos próximos meses”, completa, sublinhando que já há empresas da região a “colaborar” com esta unidade ao nível das linhas de enchimento, da robótica ou da higienização de salas.
“É natural que, ao lado da fábrica de vacinas, outras empresas satélites ligadas ao setor farmacêutico venham a instalar-se como prestadoras de serviço para fornecer esta unidade e outras da área da biotecnologia. E já temos alguns interessados, com quem estamos em fase de cedência de terrenos. Umas empresas arrastam outras”, resume Vítor Paulo Pereira, em entrevista ao ECO.
E a própria Zendal, fundada em 1939 e que exporta produtos de saúde animal e humana para 65 países, também tem “perspetivas de expansão” no concelho, uma vez que além do terreno em que foi construída esta primeira fábrica, que será inaugurada esta sexta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, adquiriu mais quatro hectares na mesma zona industrial. O autarca diz que o plano inicial do grupo espanhol admitia a construção de mais três unidades (duas de vacinas e uma de injetáveis) até 2026, o que elevaria o investimento total para 80 milhões de euros.
“Esta fábrica não veio parar aqui a Paredes de Coura por razões mágicas. Procuramos trabalhar rápido, temos velocidade institucional e não nos preocupamos apenas com o processo de licenciamento, mas acompanhamos os empresários nas adversidades e eles depois referenciam-nos. Foi assim que o CEO da Zendal chegou cá: através de referências de outras empresas espanholas que já estavam aqui instaladas”, salienta o líder deste pequeno concelho com 8.600 habitantes, segundo os Censos de 2021.
Depois da construção da nova estrada que liga Paredes de Coura à A3, que será também oficialmente inaugurada pelo chefe do Executivo socialista, este município do Alto Minho fica a apenas 30 minutos de Porriño, na Galiza, onde a Zendal tem a sede, instalações com mais de 152 mil metros quadrados e uma equipa com mais de 350 quadros. “Se não é um cluster, é, pelo menos, um polo biotecnológico. É bom que aqui no Noroeste peninsular exista um polo altamente robusto para competir no mercado global que é cada vez mais competitivo”, resume Vítor Paulo Pereira.
Ao nível do ensino e da investigação, na sequência do anúncio deste investimento, o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) e algumas escolas profissionais da região homologaram junto do Ministério da Educação opções curriculares para satisfazerem o esperado aumento de procura pelas áreas biotecnológicas. Foi em resposta ao desafio da farmacêutica que o IPVC arrancou com um novo Curso Técnico Superior (CTeSP) na área da indústria biotecnológica, com 30 vagas e duração de dois anos – o segundo de estágio no grupo espanhol –, ministrado na Escola Superior Agrária, localizada em Ponte de Lima.
Este verão, numa parceria com a farmacêutica catalã Reig Jofre, a Zendal assinou um acordo de reserva de capacidade com a agência europeia HaDEA para garantir a produção de vacinas em futuras emergências de saúde, como aconteceu durante a pandemia de Covid-19. No âmbito desse acordo, que tem uma duração máxima de oito anos, a CZ Vaccines, subsidiária do grupo Zendal, assegura o fabrico do princípio ativo das vacinas (antígeno), enquanto a ReigJoffre fica responsável pela formulação e embalagem.
ECO