“Que do mar vieste”…

Como é tradição no dia 15 de agosto celebrou-se a festividade em honra da Virgem Santa Maria, a qual na nossa freguesia é designada por Nossa Senhora da Graça, a nossa padroeira.

As festas em honra da Senhora da Graça concentram-se de acordo com o calendário civil nas proximidades do dia 15, feriado nacional, e este ano próximo de um fim de semana motivou um maior número de dias festivos, bem aproveitados pela comissão de festas.

No entanto, este ano as festas tiveram dois pontos marcantes, os quais quer queiramos ou não, fizeram a diferença do tradicionalismo. O primeiro ponto, digamos de grande impacto, foi o local da realização das festas profanas, isto é, o local da realização de todos os eventos não religiosos e os “comes e bebes”, estes tão do agrado do nosso povo. 

Devido às novas leis do uso da via pública, e dos consequentes custos das licenças para a sua usufruição, a Comissão de Festas pensou, e se bem pensou muito melhor o fez, em utilizar e espaço envolvente da residência paroquial para o dito efeito.

Para tal contactou o Conselho para os Assuntos Económicos da paróquia, órgão designado outrora por comissão fabriqueira, o qual logo colaborou com a ideia e deu o seu aval. A partir daí, a comissão meteu mãos à obra, trabalhando muitas e muitas horas é certo, muitas das vezes pela noite dentro, mas ao fim de todo esse esforço despendido, apresentou um local espetacular para a realização de todos os eventos da festa. 

Para todos quantos não lhes foi possível estar presentes nas festas deste ano, temos a dizer que a área é muito maior que a anterior, arriscamos mesmo dizer que será quatro vezes mais a do largo da igreja. Tem uma ligeira inclinação tipo anfiteatro que se enquadra perfeitamente. A secção do serviço dos comes e bebes ficou bem situada nas traseiras das mesas dos utentes. Estava tudo muito próximo da perfeição.

O segundo ponto quanto a nós de muito maior impacto que o primeiro. Este reveste-se de toda a nossa crença, fé e espiritualidade na nossa padroeira, a Senhora da Graça, que segundo diz a lenda a sua imagem foi encontrada por pescadores, quando boiava no extremo do mar de Carreço e Afife. De imediato, surgiu o problema de difícil solução, pois estava em causa a pertença de tão importante achado na raia das duas freguesias.

Das várias hipóteses lançadas para a resolução da contenda, foi aprovado que a imagem seria transportada num carro de bois puxado por um animal de cada freguesia, os quais determinariam o rumo. Os de Afife apresentaram um corpulento e bem nutrido boi, porém os de Carreço surgiram com uma vaca faminta, mas cheia de cio. Postos os animais ao carro, o boi do lado de Afife, a vaca do lado de Carreço, todo o pessoal atrás do carro e vai de tanger os animais a partir da Sarrosa com destino incerto.

Os de Afife saltavam com a vitória certa ao ver a força que o boi impunha no desenrolar dos acontecimentos, mas eis que cada vez mais o rumo é orientado para Carreço pela vaca ciosa, e foi assim que a imagem veio para a igreja de Carreço, onde o povo canta, “Senhora da Graça”/“Que do mar vieste”/“Reparti connosco”/“Do bem que trouxeste”. 

A Comissão de Festas deste ano pegou na lenda e transportou-a para a procissão solene do dia 15 de agosto. Ao fundo das escadas do adro colocou o andor em forma de barco com a Senhora da Graça, em cima dum carro de bois, puxado por duas vacas exemplares. 

Das festas deste ano vão ficar para recordação estes dois grandes momentos. Um duplo parabéns à comissão de festas, um pelas festas que fez e outro por se disponibilizar para as realizar para o ano. 

Bem-hajam.  

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