Sou um farol de fim de tarde…

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António Pimenta de Castro

Acabaram as férias, Viana volta a ficar longe…, ainda ecoam em nós, as Festas da Senhora da Agonia, a praia, os jantares com os amigos e familiares, as tasquinhas da Ribeira, o colorido da mágica Viana… Temos de deixar o «Éden do Lima». Voltamos à vida rotineira de todos os dias…, vai começar mais um ano letivo! É tempo de refletir, de programar, ou reprogramar, o futuro, de sonhar um novo voltar… E, nesta reflexão, fazer um “balanço” das nossas vidas… Olhando para “dentro de mim”, sou, como muito bem disse numa sua bela música o Pedro Abrunhosa, um farol de fim de tarde…Olhando para trás, recordamos os que já não estão entre nós, a vida que temos e que sonhamos ter, as lutas que travamos e que ganhamos ou perdemos, enfim, o resultado daquilo que escolhemos ou que tivemos de caminhar… Por um lado, recordamos os dias alegres e sonhadores da infância, da juventude, do sonho… O que a vida nos obrigou a ser, deixar de lado muitos sonhos, encarar a realidade que tivemos, bem ou mal, de “escolher”, de caminhos que a “vida” nos fez percorrer, da dura realidade, da frieza da burocracia, da rotina, do “ter que ser”, dos amigos que pensávamos ter e afinal não temos…

Recordando, como sexagenário que sou, o que fiz, o que não fiz, do que sonhei ser e não sou, do que, apesar de tudo sou, fiz e faço. Meditando, reconheço que sou “um farol de fim de tarde”, fiz muito, também muito ficou por fazer…, é a vida. Mas, como disse o poeta «o sonho comanda a vida», reconheço em mim forças para realizar ainda muitos sonhos meus de juventude, de uma obra a fazer, enfim, de ser eu mesmo, com o que tenho de bom e de mau. Somos nesta dualidade bons/maus, sonhar e fazer, ou refazer, mas sonhar sempre… A idade dá-nos esta possibilidade: analisar o que sonhamos, o que fizemos e o que temos ainda para fazer. Lutar pelos nossos sonhos, pelos nossos objetivos, aprender com o que falhou, para fazer melhor. Sonhar, ouvir o silêncio da noite, observar a lua, meditar, mas lutar, lutar sempre!!!

Ser como «farol de fim de tarde», dá-me a possibilidade de distinguir e de me aperceber do que tenho que me adaptar à realidade da vida, de, como alguém disse: Aceitar o que não posso mudar e pedir ao Criador, forças para o que posso mudar.

Quando era mais novo, pensava que a “chave” era mudar o mundo, hoje sei que a “chave” é aperfeiçoar-me a mim mesmo, saber adaptar-me ao mundo, procurando sempre mudá-lo, na medida das minhas forças, para melhor. Ser «um farol de fim de tarde», dá-nos a faculdade de ver um lindo pôr-do-sol, apreciar a brisa fresca de um fim de tarde, de sabores e aromas que nos passavam desapercebidos, de aperfeiçoarmos os sentidos e as sensibilidades, de encontrar, enfim, a paz interior, de saborear o que a vida ainda nos pode dar… Mas nunca perder o sonho, o sonho comanda a vida. E, parafraseando o Poeta, pensar que “se o meu sangue não me engana, havemos de ir a Viana”.

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