Durante mais de duas décadas, os comerciantes da zona do Edifício Jardim acompanharam de perto o processo do impasse. Agora que a desconstrução já está no terreno aguardam com expectativas a construção do novo mercado para que “as pessoas voltem a circular nesta zona”.
Maria da Saudade (na foto), da Casa Mónica, vende eletrodomésticos na lateral do Edifício Jardim, mais conhecido por prédio Coutinho, há 43 anos. Confiante com o regresso do movimento àquela zona, lamenta o tempo demorado para a resolução da situação. “O processo Coutinho afetou-nos muito. Não digo que as pessoas que aqui moravam não tinham a razão delas, porque era a casa delas, mas o problema é que a maioria saiu daqui. Só ficaram seis pessoas mais tempo e isto ficou um deserto”, refere.
Maria da Saudade recorda as pessoas que moravam, mas também aquelas que frequentavam aquela área. “Anteriormente havia as pessoas que moravam, mas também as lojas e o banco na parte debaixo do prédio. Quando isto começou a sair ficou sem movimento. Ficou um deserto. O que dizia é que tinham de resolver o problema”, acentua.
Com esperanças no novo mercado, Maria da Saudade reconhece que “numa cidade onde haja um mercado tudo funciona melhor. Há mais movimento”.
Embora reconheça que “nós já temos uma idade avançada. Se tivesse sido há 20 anos, com certeza que teria sido bom, mas agora não temos muitas expectativas. Para nós não irá dar muito”.
Apesar do impasse ter demorado mais de 20 anos, a responsável pela Casa Mónica apenas recorda o fecho das lojas que existiam na parte debaixo do edifício de 13 andares. “Aqui à volta não me recordo de fecharem lojas, as que fecharam eram nos baixos do prédio”, sublinha.
Desmantelamento já se iniciou
Desde o início de outubro, que está a decorrer a desconstrução do Edifício Jardim, pela empresa Baltor. A primeira fase envolveu a retirada de vidros, janelas, alumínios e madeiras do interior do imóvel de 13 andares e 105 apartamentos. Dentro de dias, uma máquina giratória com um braço de 40 metros vai entrar em ação para “triturar” mais de 15 mil toneladas de materiais dos 13 andares do prédio.
A desconstrução do edifício, piso a piso durante seis meses, foi o método de demolição aprovado em detrimento da implosão, processo que comportava demasiados riscos para o edificado vizinho em pleno centro histórico.
“Esta é uma área muito construída e com muito edificado antigo, razão pela qual a implosão foi afastada para não abalar as estruturas mais próximas”, referia, há dias, Tiago Delgado, administrador da Viana Polis.
Outros comerciantes, que preferiram manter o anonimato, garantem que “já era hora” de verem “uma luz ao fundo do túnel”. Com espaços abertos naquela área há alguns anos, um comerciante, que não quis identificar-se explicava que “foram 20 anos muito desesperados”.
Não querendo falar das razões dos moradores, adiantava que “a falta do mercado foi muito prejudicial. Comercialmente temos interesse que o prédio Coutinho vá abaixo”.
Assegurando que o processo foi “muito longo”, o empresário espera que em breve as “pessoas voltem a circular nesta área, como acontecia no passado”.
Nesta fase do desmantelamento do edifício, os comerciantes não têm notado afluxo de pessoas. “Até agora não notamos que haja muito interesse. Nem os moradores, que andaram em guerra vêm cá para ver como está”, lamentam.
Novo mercado custará nove milhões de euros
A autarquia prevê a construção do novo mercado municipal no mesmo local onde funcionava, até à sua demolição em 1965. Deverá começar a funcionar em 2023.
Orçado em cerca de nove milhões de euros, este projeto da Câmara Municipal tem como objetivos principais oferecer um novo tecido comercial mais diversificado e profundo; integrar-se com a envolvente comercial, de lazer e cultural; otimizar a utilização do espaço durante um período alargado de funcionamento; e constituir-se como um edifício que dá respostas funcionais às atividades que integra. Pretende-se que seja um centro dinamizador e atrativo e promovendo novas vivências.
No piso 0 foi pensado como um átrio central, onde estarão os operadores tradicionais, em espaço de banca. Os espaços são concebidos em espécie de ilha comercial para exposição. Aqui ficam também as áreas técnicas de frio para conservação de pescado. Na área nascente, com menor atratividade, ficam os espaços técnicos de apoio ao mercado e, no exterior, estão previstas coberturas para venda de mercado em conforto.
No piso superior, a funcionar como mezanino, irá ficar um conjunto de atividades ligadas a serviços e espaços culturais. Na zona da cave, haverá uma zona de estacionamento ligado ao já existente parque de estacionamento. Na área das coberturas, estão previstos terraços técnicos nos topos dos torreões e outros equipamentos.