UM GENERAL NA REVOLUÇÃO

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Comemorou-se, no dia 3 de maio, o centenário do nascimento do General Vasco Gonçalves (1921-2021). O General, que foi Primeiro Ministro, a quem o Povo anónimo, em 1974 e 1975, deu o nome de “General do Povo” e lhe entoou diversas palavras de ordem como “Força, Força Companheiro Vasco, nós seremos a muralha d´aço” e “Vasco Amigo o Povo está contigo”. Foi Primeiro Ministro nos tempos do PREC (Processo Revolucionário em curso) nos anos de 1974 a 1975 (verão quente). Homem de uma grandeza de espírito e humana fora do comum, de uma honestidade assinalada por todos os que com ele privaram e nada comparada com alguns politiqueiros que nos têm governado ao longo destes 47 anos de Liberdade. Sem sombra de dúvida, o mais integro, honesto e sério Primeiro Ministro da história da democracia.

Não podemos, nem devemos apagar da nossa memória as conquistas conseguidas no período em que o General Vasco Gonçalves foi Primeiro Ministro e não deixaremos que as queiram apagar.  É altura dos historiadores reescreverem aquele período revolucionário que o País viveu, sem medo, sem censura, com verdade. Conquistas, como o salário mínimo nacional para os trabalhadores, a atribuição do subsídio de férias, o 13º mês, aceso a saúde gratuita, acesso ao ensino gratuito, lei sindical, tudo conquistas emanadas do período de governação dos governos provisórios chefiados pelo General Vasco Gonçalves. Muitas conquistas num curto espaço de tempo – 1 ano e 2 meses, tempo de governação do General Vasco Gonçalves. Não esquecendo todo o processo de descolonização, que levou à independência das nossas colónias.

É no tempo do Primeiro Ministro Vasco Gonçalves que os operários e outras classes trabalhadoras abrem as suas contas bancárias para começar a depositar as suas poupanças. Hoje muitas famílias nem dinheiro têm para matar a fome, quanto mais para o depositar. Foi sobre a sua chefia que a banca, os seguros e os principais meios de produção foram nacionalizados. E, ao contrário dos dias de hoje, nessa altura os trabalhadores desses sectores não foram contra essas medidas. No tempo do Primeiro Ministro Vasco Gonçalves não havia contratos a prazo, nem contratos a termo certo, contrariamente ao que se verifica de há tempos a esta parte para quem se inicia no mercado de trabalho, já que desconhece o dia em que vai deixar de ter emprego. É só olhar para o número de desempregados do país. Claro que percebemos a animosidade de alguns sectores para com este General ao tempo em que foi Primeiro Ministro. As classes mais desfavorecidas passaram a ter mais algumas regalias e os ricos deixaram de ter tantos privilégios. Hoje os pobres são cada vez mais pobres e os ricos são cada vez mais ricos, e não foi certamente para isto que se fez a Revolução dos Cravos.

Por isso é que a Associação Conquistas da Revolução, em 2020, deu conhecimento de um vasto programa de iniciativas a levar a efeito durante o ano de 2021, para comemorar o centenário do seu nascimento, a que se associaram muitas organizações e instituições, dando lugar à formação de uma Comissão de Honra, onde figuram quase todos os “Militares de Abril”, felizmente ainda connosco, e grandes figuras da cultura, do desporto e das letras do nosso País. É sinal que o General Vasco Gonçalves não foi esquecido, tal como lhe fizeram os poderes instituídos na altura do seu falecimento, ocorrido em 11 de junho de 2005, “ingratos governantes”, que só chegaram ao poder porque houve uma Revolução. Também não é menos verdade que, se não tivesse acontecido a Revolução de Abril, alguns dos muitos governantes que temos tido, naturalmente, teriam servido num qualquer governo do Estado Novo

Em Viana do Castelo, o General Vasco Gonçalves, “Um General na Revolução”, como lhe chamou a investigadora Manuela Cruzeiro, também vai ser lembrado em diversos eventos que se vão realizar, onde se evocará a sua ação como militar e político revolucionário, seja como coronel (patente em 25 de Abril de 74), ou como um dos mais experientes e cultos dos oficiais conspiradores entre os capitães do MFA. Não deve ser esquecido que o General Vasco Gonçalves já conspirava contra o regime fascista ainda capitão, tendo participado, em março de 1959, no golpe da Sé.  Independentemente de eventuais erros cometidos – não podemos esquecer as condições difíceis e complexas da época -, a revolução democrática é ainda hoje uma realidade palpável, como se viu nas recentes comemorações levadas a cabo por todo o país em 25 de Abril, por forma que a data não seja esquecida e, contrariamente, sempre recordada.

António Rui Viana

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