Uma cortadela na Casaca do Portuguesito Lusito

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“Como a maioria saberá, casaca é um traje exclusivo masculino de uso cerimonial associado a uma certa burguesia, o que pressuporia deixar os mais humildes de fora ou segregar as mulheres. As responsabilidades consequenciais de procedimentos dignos de nota de reparo é neste capítulo absolutamente pluralista. Nesta crónica todos estarão sujeitos a apanhar uma casaca de água sem intuito de escarnecer, de difamar ou de denegrir.”

Peguemos então na tesoura que nem eu nem você nos inscrevemos de todo no perfil do PL, (abreviatura do epíteto da personagem que dá título à crónica que hoje vos envio). Mas será mesmo assim? Ao longo da leitura do texto você, como eu já o fiz, irá enfiar a tesourinha na algibeira pois num ou outro momento já assobiou para o lado como ambientalista farsante. Afinal o ambiente nunca irá descobrir nossas facadinhas conjugais e os comportamentos censuráveis não são uma exclusividade portuguesa. Nos Países Baixos também há o «baixito», no Reino Unido o «bretãozito» e por aí fora onde houver gente…

No mesmo sentido estaria a caçoar de mim mesmo ao assumir me como dono de uma razão eidética que só existiu na mente do sábio Platão. Pessoalmente parto sempre da premissa de que a sabedoria tem dúvidas, a ignorância, certezas absolutas.

Para exemplo, esta semana li no Público que noventa praias concessionadas do continente já permitem a frequência de cães acompanhados dos donos durante a época balnear. Esta prorrogativa que anteriormente apenas comtemplava cães de serviço como cães guia para cegos, abrange agora todas as raças de patudos mesmo as mais perigosas desde que munidos de açaime e trela que não exceda um metro. Praias em que a presença de cães continue proibida, têm de possuir sinalética e as prevaricações podem incluir coimas até 2500 euros. Em áreas de praia não concessionadas não há restrições. 

Embora não seja referido na notícia esta norma pretende obviamente combater o abandono dos animais tão frequente nesta época.

Mas, a avaliar pelo tradicional comportamento do PL no que concerne a canídeos tanto nos passeios das ruas, como nos jardins públicos, não sou eu quem levará os meus netos a frequentar estas praias. É que além da imprevisibilidade relacional dos cães com estranhos, há a questão higiénica. Que erga o braço quem nunca levou para casa um presente no calçado oferecido gentilmente pelo PL depois de caminhar distraidamente pelo passeio ou ao atravessar um relvado.

As pessoas ditas civilizadas que possuem cães de companhia em casa e levam os seus animais à rua para defecarem usam normalmente trelas com sacos para recolha das fezes porque a ausência do acesso a estes nos percursos pedestres, é um facto na maioria das vezes. Mas o PL não. As trelas têm um comprimento não regulável e não possuem sacos. Normalmente são as mesmas com que prendem os cães nos quintais.

Mas a notícia refere que estas praias abertas a cães já estão preparadas higienicamente, incluindo até bebedouros e, quem não respeitar as regras, a sua entrada será recusada pelos concessionários

No entanto há outra questão que me assalta.  Nas não concessionadas os cães andam em total liberdade e se há pessoas que controlam os animais de modo a não incomodar os outros frequentadores, para o PL isso não é relevante. Pelo contrário. Se evitam sarilhos com adultos, galvanizam-se a observar os seus cachorrões na tentativa de abocanhar gaivotas e outras aves aquáticas como os borrelhos-de-coleira-interrompida que fazem do areal o seu habitat.

Aliás esse é um dos motivos porque muitas gaivotas trocaram desde há muito os areais pelos telhados das casas e prédios de cidades distantes da costa como Braga para nidificarem. 

Por outro lado, várias ONGs aliaram-se para proteger os ninhos das limícolas utilizando cercas feitas com paus e redes. Infelizmente muitos são destruídos antes das crias nascerem ou se tornarem independentes.   

E já agora aqui deixo o registo. A Praia do Coral é uma das noventa aderentes.

Jorge Leitão

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