Se bem me recordo, a primeira votação livre ocorreu um ano depois do dia da revolução, (25 de Abril de 1975) e destinou-se a eleger a designada Assembleia Constituinte, aquela que viria a fazer aprovar a nova Constituição da República Portuguesa, pondo fim à anterior de 1933. Milhares de pessoas fizeram longas filas, registando-se uma muito pequena abstenção. Meu pai que faleceu em 1965 esteve privado durante a vida de votar, mas minha mãe, teve oportunidade, uma ou outra vez, pois houve ainda algumas eleições antes do seu passamento. Por não saber ler nem escrever não se sentia à vontade para por a cruz no boletim de voto. Era mulher e analfabeta. Fruto de outros tempos! Faleceu com 75 anos e nunca foi a uma mesa de voto! Prezava ver as outras pessoas levantarem-se cedo, vestidas a preceito, algumas mulheres amigas mas acompanhadas do marido e dizia que tinha que por o dedo e que não gostava, tinha vergonha da sua situação de iletrada, embora lhe dissessem que era só pôr uma cruz no boletim de voto. “ Não fui habituada a isso!”- Exclamava. Eu próprio também votei pela primeira vez, tinha 32 anos!
Agora não faltam urnas e mesas de voto para quem quiser. Desta vez até se vota antecipadamente – dia 17 de janeiro devido à epidemia do “coronavirus “que nos vem atormentando desde o ano passado – e depois no próprio dia das eleições presidenciais, cujo ato eleitoral efetivo está marcado para o dia 24 de Janeiro de 2021 pelo atual Presidente da República: Professor Marcelo Rebelo de Sousa.
Este exemplo de minha mãe, tentei transmiti-lo aos meus filhos. “Imaginai-vos impedidos de votar, de escolher…um candidato – O que sentirias?”- Aos 18 anos votaram pela primeira vez e já não fez falta esperar tantos anos para exercerem esse direito. Nasceram noutro tempo! Atualmente até os meus netos votam! E ainda bem que é assim. Recordo–me que de quem votou pela primeira vez na minha aldeia! Era como se fosse um dia de “festa”. Um dia diferente. A verdade é que na época, ser mulher e analfabeta era uma desvantagem. Antes do 25 de Abril de 1974, não lhes era permitido o voto.
Agora, por motivos que se desconhecem, as pessoas abstêm-se com algum significado de exercer esse direito.
O mérito está nas gerações dos anos sessenta à qual pertenço. No movimento dos capitães; nos sacrifícios e nas lutas que muitos conseguiram travar contra o regime do Estado Novo para que, agora, sejamos todos livres de exercer este direito.