A pequena pesca foi tema, no último sábado, de um congresso, o segundo que se realiza em Portugal, e que teve lugar em Vila Praia de Âncora. Uma ocasião que permitiu uma reflexão multifacetada, reunindo responsáveis dos vários setores ligados à pesca, e que trouxe boas notícias à Vila e ao Concelho, já que a secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, prometeu voltar brevemente para fazer o ponto de situação sobre o processo de reconfiguração do Portinho de Vila Praia de Âncora, um assunto que o presidente da Câmara, Rui Lages, tinha de resto elencado na sua intervenção, que abriu os trabalhos.
Teresa Coelho congratulou-se com a sala cheia, no Cineteatro dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora, considerando um motivo de orgulho, sobretudo com o estado do tempo. A responsável destacou ainda Vila Praia de Âncora e Caminha enquanto zonas com comunidades piscatórias muito importantes no país, porque – disse – têm excelentes produtos, têm excelentes condições, mas também têm tido problemas muito graves, como o Porto de Vila Praia de Âncora. “Estamos a receber contributos das diferentes entidades, estamos a analisá-los, mas ainda este mês ou pelo menos até ao final do ano voltaremos cá para discutir convosco e fazer o ponto de situação, para ver como vamos resolver esta situação do Porto”, prometeu.
Recorde-se que o Estudo de Reconfiguração do Portinho de Vila Praia de Âncora foi apresentado neste mesmo espaço no passado dia 6 de julho, com a participação do Diretor Geral da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos – DRGM, José Simão, e com a Secretária de Estado das Pescas.
Teresa Coelho deu ainda os parabéns aos pescadores e aos seus organismos. Sublinhou que Portugal é uma zona em rendimento máximo sustentável e é a primeira zona da Europa sem sobrepesca – “isto significa que estamos a fazer uma pesca sustentável. Portugal tem tido um comportamento exemplar e isto deve-se a vocês, só acontece porque vocês fazem o vosso trabalho de forma exemplar”.
A governante sublinhou a importância da associação de saberes entre investigação e pesca, que se complementam e se enriquecem, favorecendo a pesca a todos os níveis. Todas as áreas estiveram de resto representadas ao longo do dia, em quatro painéis, que contaram com mais de uma dezena de intervenientes. A intervenção inicial de Sérgio Faias, Presidente da Docapesca, centrou-se aliás na apresentação do Congresso, tendo sublinhado que a pequena pesca é na realidade um tema maior, já que diz respeito a 80 por cento da pesca.
A abertura dos trabalhos coube, como referimos, ao presidente da Câmara Municipal de Caminha, Rui Lages, que agradeceu a escolha de Vila Praia de Âncora para este Congresso. O autarca sublinhou que a economia local é alicerçada em boa parte na pequena pesca, sustento de muitas famílias e de muitas empresas. Uma situação favorecida pela situação do território de Caminha: “somos um concelho privilegiado em termos geográficos. Somos banhados pelo Oceano Atlântico, onde o primeiro pedaço de terra lusitana encontra o mar. Temos um rio internacional, o rio Minho, e dois rios com uma importância comunitária gigantesca, falo-vos do rio Âncora e do rio Coura. Por isso mesmo estas gentes sempre tiveram uma relação umbilical com a pesca”.
Rui Lages recordou os “bravos pescadores” que se fizeram ao mar na pesca do bacalhau, falou da relação da pesca com o desenvolvimento local, das necessidades económicas e dos inúmeros postos de trabalho. Referiu também problemas para reflexão, como a “elevada burocracia que um patrão tem de enfrentar para lançar as redes ao mar”, ou as exigências e requisitos que a União Europeia impõe – um desafio para se equilibrar sustentabilidade e subsistência.
O presidente lembrou que, segundo as Nações Unidas, o setor das pescas emprega no mundo mais de 200 milhões de pessoas, mas ao mesmo tempo é cada vez mais difícil aliciar as novas gerações, deixando também estas questões para reflexão.
Rui Lages ainda abordou os dois assuntos que estão no centro das preocupações do Município, por um lado o Plano de Afetação para as Energias Renováveis, que se encontra em discussão pública, referindo que também ele trará novos desafios para as comunidades locais.
Por outro lado, falou do Portinho de Vila Praia de Âncora, questão a que Teresa Coelho responderia. Disse Rui Lages: “já há muito trabalho feito, mas precisa de financiamento. Os meus pescadores sabem que o mar é perigoso e que a tormenta é terrível, mas isso não os impede de se lançarem ao mar. Só queremos mais segurança, para fortalecer esta economia, tão importante”.
O Cineteatro dos Bombeiros Voluntários de Vila Praia de Âncora foi o local escolhido para a realização da segunda edição do Congresso da Pequena Pesca, que como referimos contou com a participação da Secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, e reuniu responsáveis de vários setores ligados direta e indiretamente às pescas.
Depois da sessão de abertura, em que intervieram o presidente da Câmara Municipal de Caminha, Rui Lages, o presidente da Docapesca, Sérgio Faias e a secretária de Estado das Pescas, Teresa Coelho, decorreu o primeiro painel, sobre “Perspetivas e Valorização da Pequena Pesca”.
“Mulheres da Pesca” foi o tema do painel seguinte, tendo sido ainda apresentado no período da manhã o projeto “Embarcações movidas a gás natural”.
Os trabalhos foram retomados ao início da tarde, com o painel três, sobre “Desafios da Pequena Pesca Ibero-Americana”, seguindo-se o quarto e último painel deste congresso, sob o tema: “Potencialidades e desafios futuros”.
Com os trabalhos já a aproximarem-se do final, foi feita a entrega dos Prémios Distinção Personalidade do Setor, terminando o congresso com a sessão de encerramento e apresentação da Campanha de Promoção do Pescado Português. Intervieram ainda Teresa Coelho, a secretária de Estado das Pescas, e Sérgio Faias, presidente da Docapesca.
No fecho, Teresa Coelho elencou os temas mais discutidos e que merecem um aprofundamento, dizendo que levava deste Congresso um grande “caderno de encargos”.
A segunda edição do Congresso da Pequena Pesca, promovida pela Docapesca, foi uma iniciativa realizada em parceria com o Ministério da Agricultura e da Alimentação, e teve o apoio institucional da Associação Natureza Portugal/WWF e da Câmara Municipal de Caminha. Visou reunir organizações de produtores, associações de armadores, organizações não-governamentais, universidades e centros de investigação, para discutir temas como a valorização da pequena pesca, os seus desafios numa perspetiva ibero-americana, as mulheres na pesca, assim como as potencialidades e desafios futuros que se colocam e colocarão no setor.