Assumiu a presidência do Teatro do Noroeste – CDV no pior momento, quando muitos não acreditavam na continuidade da Companhia. Felizmente, fruto de muito trabalho, de muita persistência e interação com a sociedade local, o teatro em Viana está mais vivo do que nunca.
Nesta conversa com a responsável por esta aventura (responsáveis são todos quantos participaram nesta caminhada que se pretende longa) sente-se presença, dinamismo, confiança e muito amor pelo teatro. Os projetos concebidos constituem apostas que se vão ganhando e há a convicção de que, com apoio de toda a sociedade local, sem exceção, Viana será cada vez mais uma cidade de teatro.
Mas o CDV quer ir mais longe. A exploração do espaço Café Concerto, onde, para além do serviço de bar, podem ocorrer eventos variados, é uma aposta nova, que demonstra coragem para enfrentar o risco, se a perspetiva é fazer mais e melhor pelo teatro e pela cultura em geral da nossa terra. Com este quadro vivo e dinâmico que aqui nos é revelado, a par de manifestas e surpreendentes boas vontades da parte dos vianenses, entidades e cidadãos, há razões para afirmar que temos no CDV um pilar forte da cultura na nossa região.
“O apoio do Município foi e continua a ser essencial, mas tinha que haver um reforço de bilheteira e de laços com a comunidade”
Há alguns anos atrás, por falta de apoios, o tempo para o Teatro do Noroeste – CDV era de sufoco. Mas, felizmente, contrariamente ao que alguns vaticinavam, o teatro em Viana continuou a fazer o seu caminho. Como foram vividos e ultrapassados esses tempos de dificuldades?
O ano de 2012 foi, de facto, um momento de choque e de viragem. Pela primeira vez, a Companhia não teve qualquer apoio da tutela e a hipótese de recuperação desse apoio sustentado não aconteceria antes de 2016, pelo que os presságios de um final faziam-se sentir. Mas da parte de quem todos os dias trabalhava na Companhia, no Teatro Municipal Sá de Miranda, tal não era, nem nunca foi o desfecho desejado. Pelos trabalhadores, pelos públicos e pela cidade, foi tempo de arregaçar as mangas e lutar. Uma nova Direção, composta por três mulheres, agarrou o leme em 2013, quando até internamente pairava o espectro de instalação de uma Comissão Administrativa destinada a fechar contas e a própria cooperativa Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana. O grande objetivo era o de garantir a sustentabilidade da Companhia e só captando mais público para os espetáculos, e aumentando as receitas de bilheteira, é que isso seria possível. Claro que o apoio do Município foi e cotinua a ser essencial, mas tinha que haver um reforço de bilheteira e de laços com a comunidade. Foi esse o foco do nosso trabalho – somos a Companhia de teatro da cidade de Viana do Castelo, tínhamos que trazer Viana do Castelo ao teatro. Felizmente, assim foi. Apostámos em espetáculos que atraíssem um maior número de espetadores, integrámos o Projeto Comunidade em espetáculos e eventos, fizemos renascer a TEIA – Teatro Em Iniciativa Associativa, sem nunca esquecer a qualidade e rigor que tinham que pautar o nosso trabalho. E, assim, cada novo ano era mais uma vitória, até à meta final, que era recuperar o apoio da Direção Geral das Artes, o que, fruto de todo este suor e resistência, veio finalmente a acontecer em 2017, depois de o concurso que estava previsto acontecer em 2016 ter sido atrasado por um ano. Desde então, o Teatro do Noroeste – CDV conta com apoio da tutela para o quadriénio 2018-2021.
É óbvio que vai haver sempre dificuldades, já que o teatro nunca teve a vida facilitada e dificilmente a terá no futuro. Como em tudo na vida, só com muito trabalho o teatro se afirma. Como pensam o Teatro do Noroeste – CDV para o futuro?
Pensamos que, depois de termos ficado reduzidos a cinco pessoas em 2013, chegámos a 2017 com dez pessoas a tempo inteiro, numa altura em que ainda não tínhamos recuperado o apoio do Governo. E agora estamos no processo de desenvolvimento do projeto que contratualizámos com o Estado, que é estruturante para a cidade e para a região em termos culturais. O Teatro do Noroeste – CDV representa presentemente dezanove postos de trabalho a tempo inteiro, para além dos atores, encenadores, técnicos e demais artistas que convida ao longo de cada ano de atividade. Acolhemos regularmente estagiários dos cursos de instituições de ensino da região, que têm no Teatro do Noroeste – CDV, Companhia Residente do Teatro Municipal Sá de Miranda um parceiro de eleição para complemento da formação técnica e artística no Alto Minho. Por isso, encaramos o futuro com confiança no projeto cultural da Companhia, que continuará a necessitar, sine qua non, do apoio público local e nacional para lá do horizonte do ano de 2021. Ou nada disto faria sentido. O apoio do Estado deve ser sustentado e distendido no tempo para que possamos projetar o nosso futuro a médio prazo. Somos uma Companhia de teatro de reportório vocacionada para o desenvolvimento de públicos para as artes. Essa é a nossa missão enquanto Companhia Residente, desde a nossa fundação, em 1991, do Teatro Municipal Sá de Miranda, teatro que nos orgulhamos de ajudar a dinamizar, em estreita parceria com a Câmara Municipal de Viana do Castelo. Desejamos continuar a projetar a esfera de atividade e o reconhecimento do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, CRL. a nível concelhio, regional, nacional e internacional e, claro, manter e aprofundar o apoio da Direção-Geral das Artes.
“A cada ano, mais de dez mil crianças e jovens de todo o Alto Minho têm, em muitos casos pela primeira vez, contacto com esta arte”
Como tem sido o vosso trabalho junto dos mais jovens, para trazer ao teatro novos públicos?
Desenvolvemos ao longo do ano atividades educativas, numa lógica de serviço público, como estratégia de desenvolvimento de públicos para o teatro, promovendo debates, exposições, oficinas de teatro. Colaboramos em projetos de cooperação educativa, procurando corresponder às solicitações de cooperação com instituições de ensino, fomentando a criação de laços institucionais e afetivos com novas gerações de públicos para o teatro. Por exemplo, a cada ano, mais de dez mil crianças e jovens de todo o Alto Minho têm, em muitos casos pela primeira vez, contacto com esta arte que tanto amamos, por intermédio dos nossos espetáculos. Essa é, sem dúvida, uma responsabilidade mas também uma dinâmica que, sabemos, frutifica. Conhecemos pessoas que hoje assistem aos nossos espetáculos e que nos dizem lembrar-se de terem entrado pela primeira vez no Teatro Municipal Sá de Miranda, quando eram crianças, para assistirem a obras do Teatro do Noroeste – CDV.
“A cidade e a região deram-nos as mãos quando mais precisávamos e não prescindimos desse vínculo”
A vossa interação com a sociedade vianense constitui também uma das vossas boas referências. É para continuar esta reciprocidade?
Claro que sim. A cidade e a região deram-nos as mãos quando mais precisávamos e não prescindimos desse vínculo. O que aconteceu em Viana do Castelo entre a população, as entidades públicas e o Teatro do Noroeste – CDV, no período compreendido entre 2013 e 2017 foi algo de extremamente político, na aceção grega e etimológica do termo: a polis não quis ficar sem a sua companhia de teatro. E juntos, todos os que compomos a polis, conseguimos! Destacamos as Juntas de Freguesias e a TEIA (Teatro Em Iniciativa Associativa) que engloba 27 organizações da sociedade civil, por entre grupos de teatro amador, associações culturais e desportivas, centros de lazer e de educação, ranchos folclóricos, associações de estudantes, grupos recreativos e sociais de empresas. Acresce ainda a parceria conseguida com o comércio local, através da Associação Empresarial e Comercial de Viana do Castelo. Sublinhamos ainda a continuação dos protocolos de apoio com importantes empresas do Concelho, como Europa&C Kraft, Crédito Agrícola, que também promovem os nossos espetáculos junto dos seus trabalhadores; os patrocínios da Casa Manuel Espregueira e Oliveira, Parque 1º de Maio, Casa de S. José, Morais & Pires, Lda., parcerias estabelecidas com Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Sonae Sierra, Triauto, Rádio GeiceFM, Rádio Popular Afifense, Rádio Caminha, Rádio Alto Minho, Viana TV. Todos não somos demais pelo teatro em Viana e a todos o Teatro do Noroeste – CDV está muito grato!
No vosso seio há várias oficinas de teatro específico a funcionar. O que vem aí de novo do trabalho destes grupos?
As Oficinas Regulares de Teatro, do nosso Projeto Comunidade, que todas as terças-feiras, das 18h30 às 20h, enchem o Teatro Municipal Sá de Miranda com adolescentes e com seniores que se dedicam à prática lúdica do teatro, de forma vinculada com a atividade da Companhia e com o território, numa dinâmica que decorre de setembro a julho. É para nós também uma alegria podermos ser mediadores do usufruto que a sociedade faz do seu teatro-edifício. Nos dias 08 e 09 de junho, em três horários (16h, 18h30 e 21h30), as três Oficinas de Teatro Regulares do Teatro do Noroeste – CDV apresentam o resultado do trabalho de uma temporada, com temáticas específicas: o ATIVAsénior aborda questões relacionadas com a terceira idade; o ATIVAjúnior apresenta um exercício sobre os Youtubers e o domínio das novas tecnologias e o Enquanto Navegávamos leva a cena uma criação documental sobre algumas das pessoas que fizeram parte da História dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.