Com o aumento da longevidade, as populações ficam mais envelhecidas e com mais comorbilidades, fazendo por isso crescer as necessidades em Cuidados Paliativos (CP). A maior parte dos doentes têm doenças crónicas que progridem e se fazem acompanhar de sofrimento com necessidade, cada vez maior, de tratamento sintomático. Estes cuidados devem ser prestados por uma equipa multidisciplinar, ou seja, de Cuidados Paliativos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, os Cuidados Paliativos visam melhorar a qualidade de vida das pessoas com doenças graves que sejam (ou não) incuráveis, bem como das suas famílias, trabalhando na prevenção e alívio do sofrimento, através da identificação precoce, da correta avaliação e do tratamento rigoroso dos problemas físicos, psicossociais e espirituais. A partir de uma abordagem multidisciplinar, focada na melhoria do dia a dia do doente, na otimização da função e na ajuda na tomada de decisões sobre os cuidados de fim de vida e apoio à família, os CP devem ser introduzidos desde o momento do diagnóstico. Desta forma se percebe que o alvo destes cuidados são, não só as doenças oncológicas, mas também outras, como por exemplo doenças respiratórias, cardíacas, renais, do fígado, neurológicas ou a SIDA.
É importante não restringir, nem confundir, Cuidados Paliativos com cuidados de fim de vida, visto que estes vão muito para além desta vertente. Tem sido demonstrado que os CP introduzidos numa fase mais precoce, a par dos tratamentos dirigidos à cura, melhoram a qualidade de vida e aumentam a sobrevida dos doentes. Em suma, os CP diminuem os tempos de internamento hospitalar, os reinternamentos, a futilidade terapêutica, o recurso ao serviço de urgência e aos cuidados intensivos, diminuindo os custos em saúde. E é por isso que este conjunto de práticas deve ser integrado nos cuidados multidisciplinares aos doentes com doenças crónicas, tanto em ambiente hospitalar como no domicílio.
É urgente haver um maior empenhamento legislativo nas políticas de saúde e sociais, para que se implementem as várias estruturas já definidas, nomeadamente os cuidados paliativos domiciliários. Esta necessidade torna-se ainda mais imperativa quando analisados os dados da Comissão Nacional de Cuidados Paliativos, que estima que entre 71 mil e 500 a 85 mil portugueses têm necessidades paliativas.
De acordo com a Associação Europeia de CP, esta Comissão calcula, ainda, que sejam necessárias 40 a 50 camas de Unidades de Cuidados Paliativos por um milhão de habitantes, uma Equipa de Suporte em Cuidados Comunitários por 100 mil a 150 mil habitantes, e uma Equipa Intra-Hospitalar de Suporte em Cuidados Paliativos por hospital.
A experiência internacional demonstra que as Equipas de Supor-te em Cuidados Paliativos têm grande impacto na melhoria dos cuidados, sensibilizando transversalmente outros profissionais para a sua prática. Paralelamente, também há necessidade de unidades de internamento de Cuidados Paliativos para o acompanhamento dos casos mais complexos e para a formação e investigação.
A maior parte dos hospitais de agudos portugueses tem, ou está a desenvolver, equipas de suporte. Contudo, ainda falta cobrir grande parte das necessidades, seja no internamento ou no domicílio. Isto deve-se, em certa parte, à falta de sensibilização dos profissionais de saúde para os CP, o que, na minha opinião, prende-se sobretudo com a insuficiente formação na área.
Parece-me assim prioritária a reformulação dos currículos do ensino pré e pós-graduado para integrar os CP de forma transversal e adequada. Os profissionais que se dedicam à prática de Cuidados Paliativos necessitam de uma preparação diferenciada que inclui, para além da formação teórica específica, experiência prática em Unidades de Cuidados Paliativos.
A sociedade civil tem-se mobilizado para esta causa, o que nos responsabiliza e obriga a responder rápida e adequadamente.
Elga Freire
Internista e Coordenadora do NEMPal
Foto: Associação Portuguesa de Fisioterapeutas