Cancro do pulmão: é melhor prevenir do que remediar

O cancro do pulmão é, atualmente, a primeira causa de morte por cancro nos homens, em Portugal, e a terceira no sexo feminino, atrás do cancro do cólon e do cancro da mama. Por ano são efetuados novos diagnósticos de cancro do pulmão em cerca de 5.730 homens e 1.430 mulheres, e morrem, devido a esta doença, aproximadamente 5.100 homens e 1.080 mulheres.

Apesar dos progressos conseguidos no seu tratamento, os ganhos verificados na sobrevida da maioria dos doentes, cinco anos após o diagnóstico, são escassos. Nos Estados Unidos a taxa de sobrevida global aos cinco anos passou de 13 por cento em 1975 para cerca de 18 por cento em 2018. O prognóstico depende do estádio de evolução da doença na data em que é iniciado o tratamento e a maioria dos diagnósticos são obtidos em fases avançadas da doença. Nestes casos a taxa de sobrevida aos cinco anos varia entre os zero e os 36 por cento. Contudo, os doentes diagnosticados durante o primeiro estádio clínico têm uma probabilidade de mais de 90 por cento de estarem vivos passados esses cinco anos.

Podemos concluir, pelos números acima referidos, que se trata de uma doença com um peso social e económico muito significativo, com sérias repercussões na vida das pessoas e das famílias afetadas e na sociedade em geral, uma vez que as suas consequências, o tratamento e todo o apoio de que necessitam estes doentes se repercutem, de diferentes formas e intensidades, a todos estes níveis.

Será que podemos alterar este cenário?
O conhecimento atual sobre as causas do cancro do pulmão, as capacidades disponíveis para o seu tratamento conforme o estádio da doença ao diagnóstico e as possibilidades existentes de realizarmos diagnósticos em estádios mais precoces permitem-nos afirmar que podemos alterar muito o cenário atual e que não estamos, de facto, a orientar os esforços no combate à doença na direção certa. É necessário investir muito mais em duas áreas fundamentais: na prevenção e no diagnóstico precoce do cancro do pulmão. Podemos pará-lo antes de ele aparecer e, quando isso não for possível, temos de o diagnosticar antes de adquirir dimensões que impeçam a sua cura.

Mais de 80 por cento dos doentes com cancro do pulmão são fumadores ou ex-fumadores. O hábito de fumar e a exposição ao fumo ambiental é o principal fator de risco associado ao seu desenvolvimento e este risco pode ser significativamente diminuí-do pela mudança de hábitos. A doença pode ser evitada numa enorme parcela dos casos com a redução do consumo ou da exposição ao tabaco. Em Portugal cerca de dois milhões de pessoas são fumadoras (perto de 1.33 milhões são homens e 680 mil são mulheres).

Existem ainda outros fatores de risco conhecidos que devem ser objeto de medidas de controlo específico: poluição atmosférica (fumos de escape diesel); exposição profissional (asbestos, pó de madeiras, vapores de soldagem, arsénico e metais industriais como o Berílio e o Crómio) e a poluição indoor (rádon e fumo do carvão).

Não sendo possível eliminar todo o risco, vai continuar a existir cancro do pulmão, e por isso temos que chegar ao diagnóstico da doença antes que esta se manifeste através dos sintomas, porque a identificação da doença em fase precoce aumenta muito a probabilidade de cura.

A tomografia computorizada torácica de baixa dose de radiação é o único teste de rastreio que permite diminuir a probabilidade de morte por cancro do pulmão numa população com alto risco de desenvolver a doença. Este deverá ser realizado em centros capazes de identificar doentes com alto risco e com capacidade para diagnosticar e tratar este cancro. Portugal tem condições para montar um programa de rastreio com cobertura nacional e deve fazê-lo.

Se conseguirmos ser eficazes na prevenção e montar esse mesmo programa de rastreio com capacidade para rastrear todas as pessoas com alto risco de cancro do pulmão, poderemos reduzir a mortalidade em cerca de 50 por cento em 15 anos. Isto significa que em 15 anos menos cerca de 3.000 doentes vão morrer por ano devido a esta doença.

Alfredo Martins

Internista e Coordenador do NEDResp

Foto: Cancro online

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