Em outubro, a direção da Associação Empresarial de Viana do Castelo mudou de líder. Manuel Cunha Júnior assumiu a função e pretende apostar na dinamização do comércio tradicional. Viana do Castelo viu nos últimos anos crescer a instalação das grandes superfícies. O presidente da AEVC manifesta que é uma situação inevitável e apela à reinvenção do comércio tradicional. Garante que podem reivindicar, mas não pode impedir a instalação.
Numa altura em que está na ordem do dia da vida dos vianenses a possibilidade de demolição do Edifício Jardim para a construção do Mercado Municipal, o presidente da AEVC não quer comentar o assunto e diz que “tem um cariz extremamente político”.
Em janeiro anuncia que vão avançar com formações na área da certificação da qualidade para acrescentar valor às empresas. E, em colaboração com a Câmara Municipal, vão avançar com a divulgação do território na Galiza.
A contestação ao pórtico do Neiva vai continuar a ser uma das bandeiras da Associação e Manuel Cunha Júnior pede que mais empresários se juntem e se tornem associados para “termos mais força”. No entanto, acredita que os deputados agora eleitos vão ajudar e voltar a colocar o assunto em discussão.
A Aurora do Lima (AAL): Quais as expectativas para este mandato na Associação Empresarial de Viana do Castelo (AEVC)?
Manuel Cunha (MC): Nos últimos mandatos já fazia parte da direção, mas até por causa do último quadro comunitário, que nunca favoreceu o comércio diretamente, a associação afastou-se do comércio tradicional. Fizemos um trabalho de representatividade a nível nacional e internacional. Foi um trabalho muito bem feito e será para dar continuidade. Dito isto, com esta nova direção temos muita vontade de retomar o foco no comércio tradicional. As zonas industriais estão praticamente lotadas e iniciou-se agora o processo do novo PDM. O trabalho que a Câmara fez neste âmbito foi muito bom. O nível de interesse de procura externa é muito alto. Mas esse trabalho está feito. Agora é altura de focar no comércio.
AAL: O comércio terá uma atenção especial por parte da nova direção da AEVC?
MC: Sem dúvida, o que falta é uma planificação bem pensada para o comércio tradicional. Não temos é incentivo para a dinamização da atividade dos centros. Não podemos falar só de Viana, mas também de todas as outras freguesias do concelho. A associação abrange Viana, Caminha, Valença, Paredes de Coura, e por isso a dinamização, a captação de pessoas, nomeadamente dos espanhóis, é uma das prioridades. Obviamente, que aproveitando os Fundos Europeus queremos apostar na formação e qualificação do mercado tradicional para que se preparem para a onda de turistas, que estão a chegar ao Minho. Temos de posicionar o comércio tradicional nessa linha.
AAL: Já que fala do apoio aos comerciantes. Qual a posição da Associação relativamente ao prédio “Coutinho”, uma vez que há comerciantes que se queixam da falta de clientes?
MC: A situação já tem 20 anos. Hoje ela tem um cariz extremamente político. Há uma proposta da Polis, que já há 20 anos era interessante, que era a construção de um mercado no centro histórico. Mas como o assunto está no nível político, acho que a Associação não deve assumir uma posição.
AAL: As linhas de aposta é o comércio. Mas não podem também esquecer a componente industrial.
MC: A parte industrial está muito bem posicionada. O foco do Portugal 2020 é esse mesmo. Na anterior direção tivemos uma missão muito importante. Estivemos em quatro países a apresentar a Associação e o território e perceber as linhas e oportunidades de investimento. No final, trouxemos uma delegação com 22 pessoas, de quatro países, que conheceram in loco o território.
AAL: E já há interesse de empresas desses países?
MC: Um dos países que visitámos foi o Gana e já houve interesse de dois fortes contactos. Já os comunicamos às empresas interessadas. O objetivo é que uma empresa vianense exporte para o Gana. Vender o Minho para fora tem sido mais fácil. Na Argélia colocou-se a questão de empresas daquele país instalarem-se em Viana, mas neste caso o processo é bem mais moroso. O que importa é gerar riqueza.
AAL: Quais as principais necessidades identificadas pelas empresas?
MC: Vamos começar, a partir de janeiro, um novo projeto junto das empresas que é a certificação da qualidade. Hoje há muitos mercados que obrigam a esta certificação da qualidade. Inicialmente abrangerá 12, que poderá ser extensível a outras.
AAL: A contestação ao pórtico do Neiva esteve sempre nas preocupações da AEVC. Vai continuar a fazer parte desta nova estratégia?
MC: Sim, vai continuar. Esse é um trabalho que foi iniciado pelo engenheiro Ceia, antigo presidente da AEVC, e eu também participei nesse projeto. Ainda agora com a campanha para as Legislativas tivemos um debate com os principais candidatos e uma das preocupações de todos os partidos era esse pórtico da A28. Nós fomos muito penalizados com as portagens eletrónicas. E os mais prejudicados são os vianenses que têm de trabalhar na Zona Industrial do Neiva. Pedimos a retirada do pórtico, mas aceitamos também a sua deslocalização. Mas esta é uma questão política. Já na anterior Legislatura fomos à Assembleia da República com a petição pública, que recolheu mais de sete mil assinaturas, e depois a CDU levou o assunto a Plenário e a votação foi o que as pessoas sabem… Senti que todos os candidatos e muitos dos que foram eleitos manifestaram a vontade de analisar esta situação.
AAL: Estamos também na época da digitalização da economia. Como é que a AEVC encara esta situação?
MC: Esse é outro projeto que temos e já iniciámos conversa com os parceiros. A digitalização hoje é o futuro. Mas entendemos que no comércio local há alguma dificuldade. O âmbito da formação é importante, mas também temos de fazer algo mais. Temos de pensar como podemos digitalizar os centros históricos das localidades, de uma forma simples, fácil e intuitiva. O português é um aventureiro nato, mas que nunca se esquece das suas raízes. Tivemos um projeto, no âmbito da Ceval, que foi o 100% Alto Minho, que foi para o mercado da saudade. Já na área digital e que correu muito bem. Viana tem um mercado tradicional gigantesco e está pouco aproveitado. A digitalização acho que poderá ajudar.
AAL: Em que sentido?
MC: Quando falamos de comércio digital, a China e a Inglaterra dominam as vendas online. Por exemplo, o meu filho só compra livros em inglês numa determinada loja inglesa que entrega em casa. Isto servirá de modelo para que possamos aplicar ao nosso comércio. Nós temos, em Viana, empresas muito competentes nesta matéria. Está a ser pensado.
AAL: As grandes superfícies também não param de se instalar em Viana. O que é que a AEVC pode fazer para ajudar os comerciantes?
MC: A Associação tem poder de reivindicar coisas, mas não temos poder autárquico para travar a instalação. Isto é um processo muito complicado. Agora a mudança de paradigma das grandes superfícies alterou ainda mais esta situação. Dantes falava-se de grandes superfícies as lojas acima dos 1400 metros quadrados e muito maiores e hoje fala-se das superfícies das freguesias, que são muito menores, mas em maior número e que se posicionam nos centros das freguesias.
AAL: Os comerciantes têm de se reinventar?
MC: O comércio tradicional tem de passar por um processo de atualização. Claro que os comerciantes têm de se sentir motivados a isso. E é aí que temos de fazer um trabalho. Há coisas que se podem tentar, mas é necessário ter alguma paciência, porque os resultados não serão imediatos.
AAL: As Lojas Memória são também uma parceria com a autarquia. É um projeto para avançar?
MC: Houve uma mudança de regulamento no meio do processo. Inicialmente o projeto era as Lojas com História, porque tinha uma vertente mais focada para a arquitetura das lojas, que não tinha sido alterada nestes anos. Depois, percebeu-se que aquilo era muito específico e alargou-se para as Lojas com Memória.
AAL: Aproxima-se a época natalícia. A Associação tem pensadas algumas ações para cativar mais pessoas para os centros históricos?
MC: Iremos avançar com o projeto “Viana é Natal”, e as nossas campanhas vão-se manter. Teremos também algumas surpresas.
AAL: Quantos associados?
MC: Ativos, temos cerca de 1200.
AAL: É um número residual para a quantidade de empresas e comércios existentes?
MC: O que precisamos é consciencializar as pessoas de que este número é irrisório.