Foi há dez anos que nos deixou, mas continua vivo na memória de todos aqueles que o conheciam, que com ele privaram e que o estimavam, porque Romeu de Sousa reunia um conjunto de qualidades e uma forma própria de estar na vida que facilitava a criação de amizades duradouras.
O combate ao Estado Novo, o firme empenho na construção de uma sociedade de justiça social, a disponibilidade para servir causas de interesse coletivo, a independência manifestada em relação a poderes por mais influentes que fossem, a franqueza de carácter e a ausência de tibiezas nos combates verbais que travava com gente oposta em ideias, tudo isto, que não é pouco, fizeram também de Romeu de Sousa um cidadão para ser recordado como amigo e como exemplo a seguir.
Não lhe faltava o seu lado polémico, particularmente quando queria ser firme nos conceitos que defendia, o que nem sempre era do agrado de quem com ele dialogava, mas isso é uma característica própria de quem não abdica de ideias que considera justas e elementares, de quem não aposta em consensos só para ser simpático, tendo que pôr de parte razões que lhe assistem.
Nesta cerimónia acontecida em Vila Praia de Âncora, Romeu de Sousa foi recordado tal como era pelos muitos amigos que estiveram presentes. Foram bastantes os que, conhecendo-o bem, quiseram deixar o seu testemunho de factos e acontecimentos que comprovavam todas as suas particularidades e, especialmente, a sua perseverança, de que não abdicou até mesmo quando se apercebeu que o seu fim de vida estava próximo.
É sempre comovente ouvir e aplaudir o elogio autêntico de que um bom cidadão é merecedor, mas a verdadeira homenagem passa mais pela adoção de comportamentos que se aproximem daqueles que praticavam os que queremos homenagear. As sociedades têm tendência a desumanizarem-se e é seguindo condutas que outros nos legaram que poderemos fortalecer vivências e criar estados de unidade. Romeu de Sousa, e tantos outros, merecem esse tributo.
GFM