XXI Jornadas da Associação de Grupos Folclóricos do Alto Minho

Durante as XXI Jornadas de Reflexão da Associação de Grupos Folclóricos do Alto Minho (AGFAM), realizadas na tarde de sábado de 30 de Novembro, no auditório do Museu de Arte e Cultura de Viana do Castelo, os vários oradores, moderados pelo professor José Escaleira, desafiaram os grupos a questionarem as suas práticas e as suas formas de interagir com os públicos para quem desenvolvem a sua atividade.

Após a abertura da sessão, que contou com a presença do presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa; da vereadora da Cultura, Maria José Guerreiro; e do presidente da AGFAM, Alberto Rego; a bailarina e coreógrafa Sílvia Lima convidou à reflexão sobre o que é um bom espetáculo na perspetiva dos bailarinos, uma vez que, para além da técnica, são importantes os sentimentos, as emoções e a história que estão a procurar transmitir. Aludiu à importância destes viverem plenamente o momento do espetáculo, mas também de conseguirem que o público viva esse momento com eles, acrescentando que para uns e outros essa experiência pode ser terapêutica.

Júlio Viana, músico e professor, refletiu sobre as transformações que os conjuntos musicais dos vários grupos folclóricos têm sofrido ao longo dos tempos, tanto ao nível dos instrumentos como da forma de os tocar, referindo, inclusivamente, a necessidade de alguns repensarem a tonalidade dos instrumentos utilizados, no sentido de evitar a desafinação dos cantantes. Segundo este, deveriam existir escolas profissionais de dança e música popular que acrescentassem conhecimento às práticas tradicionais e de que todos os agrupamentos poderiam beneficiar.

Hermenegildo Viana, etnógrafo e técnico de museografia do Museu do Traje, falou da importância das escolhas de indumentária nas apresentações dos grupos, pois as danças e os instrumentos que utilizam devem acompanhar a época dos trajes que envergam, embora diferentes épocas do mesmo trajar possam coexistir em palco. As alterações que alguns agrupamentos fazem de peças antigas e que pertencem a um período específico, ou que são prova de uma determinada moda no trajar, assim como o uso de cores, padrões e tecidos que, no passado, não existiam localmente, retiram valor histórico a essas peças e aos trajes. Para Hermenegildo Viana, os grupos não devem descurar a investigação e o estudo contínuo.

Sara Ferreira, especialista em ciências da comunicação, aludiu à importância dos grupos se questionarem sobre a forma como comunicam com a comunidade. As redes sociais, por exemplo, podem ser uma plataforma a ser trabalhada para que as associações partilhem as suas atividades, nunca esquecendo que a mensagem não deve ser apenas para um nicho da população que já aprecia a cultura popular, mas para a população que procura Cultura(s). Uma plataforma comum onde os investigadores e o público em geral pudessem tomar conhecimento do trabalho desenvolvido pelos grupos poderia ser uma mais valia futura.

O professor Manuel Domingos Silva procurou que os grupos refletissem sobre a importância social que podem ter numa comunidade, nunca esquecendo que é a essa comunidade que servem. Acrescentou ainda que, quem integra uma associação, serve-a e não deve, por isso, servir-se dela. Para além disso, referiu que a mudança baseada na ponderação interna e na partilha de saberes é uma necessidade intrínseca das associações, essencial ao seu crescimento e à sua longevidade.

Pablo Gonzalez, Vice-presidente da Federación Galega do Folclore, relatou a experiência de alguns grupos galegos que já aliam a tradição com a modernidade, assegurando que a forma como hoje se vive o folclore é diferente da forma como era vivida por anteriores gerações e que, por isso mesmo, os grupos não devem ter medo de incluir nas suas apresentações novos olhares e interpretações das tradições. Quem sabe se, daqui a cem anos, não serão as atuais visões da cultura popular estudadas e reinterpretadas?

P.J.

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