O pretensioso

Em tempos
ele prendeu a esperança a um cordel
e para todo o lado a levava consigo.
Determinou que dela faria o seu abrigo
mas ela desfez-se como brinquedo de papel.

Cheio de fé
nem olhava para o limite da linha
que cingia a sua hipotética esperança.
Era tanta a audácia e confiança
que nunca pensou perder a esperança que tinha.

Neocorodidáscalo
imaginou pôr todos a cantar e a dançar
sob a sua peculiar batuta, egoísta vontade;
o peso da idade, o cansaço, a realidade,
associaram-se para dele tudo levar.

Cabisbaixo
acotovelado pela multidão desinteressada
vai cismando por que razão foi tão crente
se é, afinal, igual a toda a gente
e o percurso que traçou não deu em nada.

Enfim
tolerando a diferente sorte infligida,
aquilo com que não sonhou, o inesperado,
vagueia pelas ruas triste e desfasado
puxando o quebradiço fio que arrasta a vida!

Eugénio Monteverde

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