No dia 21 do mês de dezembro último foram implantadas junto e em frente à Capela do Senhor do Cruzeiro e das Necessidades, situada no espaço que constitui o adro da Igreja paroquial de Lanheses, Viana do Castelo, duas estátuas em granito representando, uma, o Senhor das Necessidades sobraçando a Cruz da Redenção, e outra, colocada no lado oposto no mesmo plano e alinhamento, a padroeira de freguesia, a jovem mártir Santa Eulália.
A Capela passou por sucessivas alterações ao longo do tempo até chegar, em meados do séc. XVIII, à estrutura atual estando dotada de uma fachada recheada de figuras simbólicas da Igreja cristã, cujo traço se aproxima do estilo barroco rocaille.
O pequeno templo é uma jóia de criatividade e de arte sacra e o orgulho dos Lanhesenses. Está muito bem zelado por dentro e por fora.
A inopinada iniciativa não é resultante de exigência em cumprir um compromisso ou aspiração coletiva manifestada pela Comunidade local ao longo dos tempos, ou destinada a suprir ausência de significado ou valor artístico do património edificado, que claramente não existe.
Por isso, e por razões que não interessa pormenorizar, não havia necessidade.
Não tendo havido prévia ou posterior informação pública por parte dos promotores do ato, bem como dos pressupostos da iniciativa, alegadamente a responsabilidade da autoria terá de ser cometida à Comissão de Festas do triénio 2017-2019, em fim de mandato, de acordo com a leitura extraída da data inscrita nas respetivas peanhas das figuras expostas, “2017/2019”.
As Comissões das Festas não são eleitas ou nomeadas. São formadas ad hoc por voluntários, em alguns casos integrando cumpridores de promessas, disponíveis para assumirem a responsabilidade de organizar a festa anual ao Senhor do Cruzeiro e das Necessidades no quarto domingo do mês de julho, bem como o de obter os fundos necessários para custear os encargos do evento, os quais, provêm maioritariamente de peditórios realizados “boca a boca”, “casa a casa”, exclusivamente para aquele fim, da receita dos tabuleiros ofertados pelas mordomas e habitantes dos lugares, pelos juízes que participam na procissão, da coleta de promessas, de peditórios a emigrantes, de esmolas de fiéis e do aluguer de espaços durante os dias da celebração, designadamente.
Não são conhecidas situações de défice no fecho final das contas.
Os seis mil euros da fatura referente ao presumido custo das esculturas terão saído do saldo disponível.
Tenha ou não havido prévia consulta a organismos da tutela ou obtenção de pareceres idóneos de pessoas habilitadas culturalmente para que a Comissão de Festas de 2017-2019 possa provar estar legalmente habilitada para alterar negativamente o património cultural comum da Freguesia de Lanheses, quiçá distrital, nada obsta a que à Comissão de Festas do Senhor do Cruzeiro e das Necessidades, que lhe sucedeu para os próximos três anos, lhe seja dada a prerrogativa de restituir à Capela o alto valor simbólico religioso e artístico que lhe é reconhecido.
No dia 04 de janeiro corrente, a nova Confraria do Senhor do Cruzeiro e das Necessidades agora em exercício para o triénio de 2020/2022, exarou sobre o assunto um comunicado, o qual foi lido nas missas vespertina e matinal realizadas na igreja paroquial da Freguesia dos dias 04 (sábado) e 05 (domingo). A Confraria vai pedir “um parecer à Comissão Diocesana de Arte Sacra” sobre o assunto e depois “agiremos em conformidade”.
Informam ainda que “depois de conhecido o mesmo parecer, se necessário, será convocada uma Assembleia Geral de irmãos para que os mesmos possam decidir democraticamente sobre o destino final das mesmas. A Confraria pede a todos que aguardem com calma e serenidade o desenrolar da situação”.
Retificação
No artigo da edição anterior, “Homenagem a Agostinho Gomes“, onde se lê: “(…) tendo intervido“ deve ler-se “(…) tendo intervindo“. Pelo lapso, as nossas desculpas.