Foi uma surpresa, mas que a deixou feliz. Rosa Caetano, 76 anos de idade e 64 dedicados ao folclore e, por via deste, a participação na Romaria d’Agonia. Esta meadelense, antiga costureira e que hoje vai ocupando grande parte do seu tempo numa pequena retrosaria que tem na sua terra, é a presidente da Comissão de Honra da Romaria d’Agonia, uma função que, há mais de duas décadas, o presidente da Câmara delega em figuras que “contribuem para a promoção do concelho e das festas”.
“Acredite que, para mim, foi uma surpresa muito grande. Já colaboro há muitos anos com as Festas d’Agonia. Faço isto por amor às Festas e ao Folclore. Era a última coisa que esperava, mas é uma honra. Pensava ser um sonho, mas estou na realidade Estou feliz por isso, mas não esperava”, refere ao A AURORA DO LIMA, da qual, observa, é leitora habitual.
Quando soube, o que sentiu?
Nem sabia o que dizer. Quando o senhor presidente da Câmara me convidou, pegou num livro e começou a conversar. Eu tinha dado uma entrevista, que saiu no boletim do município, e já devia de andar a ver e convidou-me para ir à Câmara. Pensei que era para me dizer alguma coisa sobre essa entrevista. Estivemos a conversar e depois disse que gostaria que aceitasse ser presidente da Comissão de Honra. Nem queira saber a emoção!
Habitualmente, a D. Rosa Caetano desfila nas Festas?
Sim. Há muitos anos. Mesmo nos cortejos, a colaborar na mordomia. No Museu do Traje tinha andado lá com Amadeu costa. Abriu em 1996 e aí já com ele. As primeiras exposições eram sobre as Festas d’Agonia. Trajava aqueles manequins todos. Mas era só para as Festas. Ajudava a vestir os manequins. Ele elaborava a exposição e a gente estava ali a colaborar. No primeiro ano, vestimos 60 manequins. Não esqueço. Mas havia mais gente a ajudar.
Participa desde o início através do folclore. Mas a Romaria da Senhora d’Agonia tem sofrido alterações?
No meu tempo não havia, como hoje, a mordomia. Hoje, o desfile da mordomia é num dia em que toda a gente vem. Antigamente, não era tanto. Era mais a Festa do Traje, no campo de futebol. Lembro-me mais no meu tempo. Eram os grupos folclóricos e tínhamos tudo organizado com os grupos da freguesias. Lembro-me desta fase quando era nova. Mas, de há uns anos para cá, tem sido realmente a mordomia das Festas d’Agonia a ter destaque. Dantes, havia muita mãe que dá o traje à filha para ir na mordomia.
Algum facto curioso de que se lembre?
Quando entrei para o folclore, ia à festa pelo folclore e tínhamos bilhete para o Jardim. Naquela altura, há 64 anos, não tinha dinheiro para ele. O jardim estava vedado e nós tínhamos o bilhete para entrar lá.
Acho que éramos umas felizardas por termos isso. Por participarmos na Festa do Traje, davam-nos 10 escudos e um bilhete que, no dia da Serenata, nos permitia entrar no Jardim.
Esta ano é, sobretudo, para sentir a Romaria?
Vou sentir tristeza, claro, porque não é a mesma coisa. Mas, ao mesmo tempo, com muita fé e que Deus nos ajude para o ano termos as Festas. Dentro de mim há um vazio. Mas a emoção vai ser mais forte.
Vai senti-la através da Internet?
Sim. Como toda a gente. Mas vamos sentir a Romaria com mais emoção e fé para que, no próximo ano, se voltar à normalidade.
Antigamente participava, então, como elemento de grupo folclórico!
Íamos pelo Grupo Folclórico das Lavradeiras da Meadela. Também andei nove anos no Grupo Folclórico de Stª Marta de Portuzelo e ia lá nos por este. Tenho participado quase dos os anos. Sempre como elementos de um grupo folclórico.
Agora está num lugar que até já foi ocupado pela Amália Rodrigues?
Sim. Há, até, uma história engraçada. Quando foi presidente de Honra, eu fiz-lhe uma saia branca. Fui costureira toda a vida. Por incrível que pareça, está com ela até trajada no quadro em que está no Museu do Traje. Andava eu a dizer que ia doar a saia branca… e foi no ano em que ela a vestiu nas Festas da Agonia.
E Amália chegou a saber que foi a D. Rosa que a fez?
Não chegou a saber. Ela apenas mandou dizer que se trajava. Mas não queria nada daqueles saiotes e saias, disto e daquilo. Nesse ano fui com o grupo folclórico a Espanha, mas deixei a saia branca, fininha e com uma renda muito linda. Ela não ia dizer que não. Assim aconteceu.
Nesse ano, foi dada em Viana a novela Os Lobos e dei a roupa com que participaram no Cortejo da Senhora d’Agonia. Foi ao Pedro Lima (já não está cá), Ana Brito e Cunha, Patrícia Tavares e o António Cerdeira. Trajei a Sofia Alves e o Diogo Infante. Fui costureira das estrelas Se não fosse costureira, não tinha nem um bocadinho do que tenho hoje.