Os municípios integrantes das Águas do Alto Minho (AdAM) acompanham a insatisfação e a deceção dos clientes desta e querem acreditar que esta vá “mudar de vida” no curto prazo, já a tempo da próxima fatura. Caso contrário, o regresso a “casa de cada um” passará a estar em cima da mesa. “Se as coisas não mudarem, teremos de ser nós a mudar”, afiançou Miguel Alves, o edil de Caminha. Todas as hipóteses estão, pois, em aberto.
Em conferência de Imprensa realizada na última semana, seis dos presidentes de Câmara da área da AdAM – faltou apenas o de Valença que estava noutra reunião -, os autarcas reconheceram que o desempenho da empresa, na faturação e no atendimento, “tem sido uma enorme desilusão”.
São “erros grosseiros na faturação, documentação incompreensível, desvalorização da leitura efetuada pelos consumidores, deficiente atendimento e falta de recursos humanos”. Sublinham que “tem feito um esforço de serenidade pública, ao mesmo tempo que lutam, no seio da AdAM, para que sejam feitas melhorias no funcionamento da parceria”.
BASTA DE ERROS E PROMESSAS
“Basta de erros, baste de promessas, basta de faturas fora de horas, basta de códigos de pagamentos caducos, basta de valores exorbitantes, basta de estimativas irrealistas, basta de telefones não atendidos, basta de comunicação errática”, observam os autarcas, num comunicado lido aos jornalistas pelo edil vianense, José Maria Costa.
Os autarcas solicitaram uma reunião, com caráter de urgência, ao ministro do Ambiente, Matos Fernandes, “de modo a que possamos dar conta das nossas preocupações e expetativas quanto ao novo ciclo da AdAM, que deverá contar com total empenhamento do nosso parceiro Estado”.
Os autarcas referiram que, na última reunião com esta parceiro, Águas de Portugal, detentor de 51% do capital, o presidente da Administração da AdAM garantiu-lhes “que a última fatura emitida, a que se juntou a famigerada fatura ‘amarela’ de correção da suspensão da faturação, será a última influenciada pelos problemas resultantes da agregação entre sete Municípios”.
A próxima fatura “será emitida através de um novo sistema que beneficiará de leituras reais e estará mais capaz de detetar erros inopinados”. Além disso, serão contratados mais recursos humanos e reforçado o “atendimento presencial e telefónico”.
Reconhecem que os últimos meses foram muito difíceis e o “pior é o que está a acontecer às famílias dos nossos concelhos, principalmente as que têm recebido faturas incompreensíveis e têm dificultada a possibilidade de reclamar”.
Na resposta às questões levantadas pelos jornalistas, Miguel Alves, o edil de Caminha, afirmou que a “expectativa é que as coisas comecem a melhorar no prazo da próxima faturação. Se não melhorarem, vocês conhecem cada um dos presidentes de Câmara que estão aqui, não vamos ficar parados, nunca, em nenhuma circunstância. Temos feito um debate privado, nos locais próprios, nos órgãos de gestão, mas se as coisas não mudarem então temos de ser nós a mudar”.
SIMULADOR DA CDU
Entretanto, a CDU decidi lançar uma campanha para acabar com Águas do Alto Minho, devolvendo as redes de água aos municípios. Tendo por lema ‘Erros, desculpas, tarifas, mentiras. Basta. Recuperar a água como um bem público’, passa, também, pelas redes sociais e pela distribuição de documentos à população, nomeadamente cartazes e faixas.
“Consideramos que se provaram todos os nossos piores receios quando denunciamos o que iria acontecer, desde as tarifas à forma como são tratados os consumidores”, observou Filipe Vintém, responsável regional desta força política.
Será ainda disponibilizada “à população afetada pela má gestão da empresa um simulador, uma aplicação na Internet, para que as pessoas possam verificar se as suas faturas têm erros ou não tem erros, se não estão a ser enganadas”. “Não é uma coisa oficial. É feita por nós, mas será mais um elemento para ajudar as pessoas a perceber a forma como é faturado o consumo de água”, esclareceu.
Segundo Romão Araújo, membro comunista da Assembleia Municipal de Arcos de Valdevez, nos ”estatutos que foram aprovados nas câmaras e assembleias municipais, constatamos que quer no artigo 5.º, número 4, quer no artigo 19.º, número 5, está contemplada a possibilidade de existirem pessoas coletivas que comprem ações do tipo B. Estas ações do tipo B, neste momento, ainda não existem, mas são um tipo de ações que podem ser detidas por privados”. Além disso, nos estatutos, “ fala-se no poder da conversão das ações de tipo A, que só podem ser detidas por entidades públicas, em ações do tipo B, que estas, sim, podem ser detidas por privados”.
Na mesma ocasião, Cláudia Marinho, vereadora vianense da CDU, criticou os presidentes das Juntas de Freguesia do concelho pela “inércia de um abanar de cabeça a este problema, e uma apatia total de querer perceber e entender o mal que isto faz às populações e aos seus fregueses”. Acusa-os de terem sido coniventes, exceto o da União de Freguesias da cidade (eleito da CDU).
DEPUTADOS PS E BE QUESTIONAM
Preocupados com a situação criada e pelo que consideram, deplorável serviço que tem vindo a prestar aos consumidores, os deputados do PS eleitos por Viana do Castelo, questionaram, mais uma vez, o ministro do Ambiente sobre as diligências que considera vir a providenciar no sentido da resolução deste problema.
Conforme refere o deputado José Manuel Carpinteira, para além do aumento do preço da água, o desempenho da ‘AdAM’ no que diz respeito à faturação e atendimento aos consumidores tem sido desastroso. “A ‘AdAM’ perdeu a credibilidade junto da população!” – considera.
Já o Bloco de Esquerda entregou um Projeto de Resolução na Assembleia da República para a remunicipalização da AdAM.
Os bloquistas recomendam, nomeadamente, que o Governo “assegure a definição e a implementação de planos de investimento para a aplicação de tarifas justas e acessíveis a todos os munícipes”.
Por outro lado, requereram a audição dos presidentes de Câmara e presidente da AdAM no Parlamento.
IL E PSD CAMINHA E A REVERSÃO
Também o núcleo da Iniciativa Liberal (IL) de Viana do Castelo entende que é chegada a altura de reverter a criação da empresa Águas do Alto Minho, devolvendo a gestão da água a cada um dos municípios.
“As autarquias aderentes já deveriam ter percebido que são as principais responsáveis pelos constantes atropelos praticados pela Águas de Portugal na gestão da Águas do Alto Minho, uma empresa totalmente detida por capitais públicos que tem vindo a causar graves danos financeiros à já depauperada economia das famílias vianenses”, refere, em nota que nos enviou, o coordenador Maurício Antunes da Silva.
Este considera que a AdAM “durante este ano de existência a ADAM brindou os seus clientes com contas astronómicas, erros admitidos em mais de 10 mil faturas, localidades sem abastecimento de água dias a fio” e “constantes trapalhadas” que têm agora reflexo num suposto “acerto de contas” que, em muitos casos, se traduz num aumento exponencial dos escalões de consumo sem qualquer explicação e enquadramento legal”.
Também nos chegou a informação de que os vereadores do PSD na Câmara de Caminha, na última reunião da vereação. apelaram ao presidente da Câmara para que “fosse feita a rescisão imediata, e com justa causa, do contrato assinado entre a empresa AdAM e a Câmara Municipal de Caminha por via dos constantes erros e atropelos aos consumidores e que a gestão da água e saneamento voltem para gestão municipal.”
CDS DEFENDE MEDIDAS DRÁSTICAS
Também a Concelhia vianense do CSD/PP veio criticar o silencia do município vianense, “tendo em conta as filas de clientes que são vistas à porta da sede da empresa em Viana e também em Ponte de Lima.”
“É muito difícil de entender que os Municípios envolvidos, em particular a Câmara Municipal de Viana do Castelo, assistam impávidos e serenos a uma situação patentemente grave, que tem causado muitas aflições e transtornos aos seus munícipes”, critica a estrutura concelhia.
“Contrariamente à expectativa que nos gerou o projeto aquando da sua apresentação, a enorme ineficácia de gestão que a Águas do Alto Minho vem evidenciando causa-nos crescente e justificada preocupação”, observando que “os erros continuam a suceder e a repetir-se, obrigando os vianenses a deslocar-se e a aglomerarem-se à porta das instalações da AdAM para tentar resolver situações anómalas, criadas pela própria empresa, que os afetam seriamente”. Por isso, considera urgente que “sejam tomadas medidas drásticas e eficazes para que, de uma vez por todas, sejam resolvidos os inexplicáveis mas sistemáticos problemas de faturação”.
LONGAS FILAS E AO FRIO
Nos últimos tempos, junto à sede da AdAM em Viana do Castelo, têm sido formadas longas filas de utentes que pretendem reclamar das suas faturas. São, muitas vezes, horas de espera e, às vezes, sem lograrem o pretendido atendimento.
Há quem não tivesse, ainda, recebido a totalidade das faturas de 2020 e – dizem-nos- há consumidores que recebem faturas parcelares. Estas surgem, porém, com custos associados, como o de uma fatura com 1 metro cúbico de água de consumo e que é logo acompanhada de custos mínimos de taxas e taxinhas. Também há faturas de milhares de euros, como a daquela provocada, alegadamente, por uma “fuga de água”. Acrescem também “acertos” que nem todos compreendem!
Nas filas nota-se um descontentamento por parte das pessoas com a AdAm, com o anterior melhor serviço prestado pelos Serviços Municipalizados e, até, com a vontade de, se a situação permanecer, “castigar” os autarcas no próximo ato eleitoral.
Como foi lembrado, os desideratos que presidiram à criação da AdAM foram “manter a gestão pública da água, garantir maior eficiência das redes, incrementar a qualidade do serviço, ganhar escala, cumprir a legislação e multiplicar investimento”.
FUTURO COM “BOAS NOTÍCIAS”
Carlos Martins, presidente da administração da AdAM, garantiu que a empresa não fará cortes de água à população por falta de pagamento de faturas durante o primeiro semestre de 2021. Nesse sentido, lembra que “ nunca procedeu a nenhum corte por essa razão, por isso não o vai fazer seguramente nos próximos tempos”, garantindo que “as pessoas podem estar tranquilas”.
Quanto a pagamentos em suspenso, asseverou que “agora com o sistema informático renovado, aqueles que não o fizeram no passado, irão receber uma carta com a situação pendente de pagamento, o que não implica que a AdAM vá para a rua fazer cortes sem antes prestar os devidos esclarecimentos às pessoas. A empresa baseia-se numa relação comercial muito transparente e clara. Nós estamos para servir os clientes, não estamos aqui com nenhuma vontade de criar uma tensão desnecessária. Queremos agora trazer mais clientes e ter o melhor serviço, já recrutamos e formamos 150 pessoas e deposito nelas toda a minha confiança.”
A AdAM anunciou o triplicar da capacidade de atendimento telefónico da empresa já esta semana, adicionalmente ao reforço do atendimento, sob marcação prévia. Recentemente ficou também instalado um novo sistema de faturação da empresa, refere.
Entretanto, Carlos Martins diz acreditar que “o futuro nos vai trazer boas notícias”.