A Azenha da Almerinda voltou a moer

Na margem direita do rio Neiva, em terras de Alvarães, há três azenhas com histórias muito antigas e que hoje são recordações do passado: a Azenha da Bichana, a Azenha da Almerinda e a Azenha e Engenho da Morena ou da Aurélia.

A Azenha da Almerinda também conhecida por Azenha do Cagaças foi há anos adquirida pela Junta de Freguesia e desde então a autarquia tem feito um trabalho notável de recuperação do velho edifício e da área envolvente.

O local é paradisíaco. A calma, o silêncio, a água a cair da levada, as sombras dos amieiros e salgueiros, o chilrear da passarada e a paz que ali se respira.

Após a abertura de uma rua em calceta, podemos dizer que os acessos à Azenha são bons. O espaço envolvente e que é de muitos metros quadrados foi recuperado. Há água potável, casas de banho, mesas em pedra e churrasqueiras para quem ali pretender passar uma tarde bem passada ou fazer mesmo um piquenique.

O edifício propriamente dito da Azenha sofreu melhoramentos, quer nas paredes, quer no telhado. Faltava colocar a Azenha a moer.

Nos últimos tempos, foram disponibilizadas mós e de um momento para outro, eis que já se ouve o som da moagem. A Azenha da Almerinda voltou a moer o grão de milho que durante anos a fio foi o principal alimento do nosso povo.

Um pouco de história desta Azenha que atesta o passado, o esforço e muitas vidas que percorreram aqueles velhos caminhos até ao rio, numa compilação há anos realizada por um grupo de amigos de Barroselas em “Rio Neiva, rodas d´água e agro sistema tradicional”, Rogério Barreto e outros.

“Esta azenha, construída em alvenaria de granito argamassado com saibro, tem planta retangular com 15,40 m X 5,80 m. O telhado é de duas águas coberto com telha de canudo nacional. Tem três vãos: uma janela virada ao rio, a sul, uma porta e um portão – este com 2 m X 1,70 m, a norte, e uma fresta a nascente.

Na data do primeiro registo, era propriedade de herdeiros e encontrava-se em ruinas, sem telhado, embora com as paredes em pé. No seu interior, jazia um pé de mó ainda em bom estado e restos da entrosga. Tinha uma só roda penal e faziam-se serões sempre que as necessidades o justificavam. A água que fazia girar a roda penal provinha de um açude com cerca de 20 m de extensão e 2 m de largura, embora em mau estado de conservação.

As fornadas eram recolhidas e depois entregues aos fregueses com recurso a uma carroça puxada por uma burra.

Segundo informação prestada pelo Ti Januário – que foi moleiro na azenha anterior – esta azenha tivera outra roda que alimentava um charrió de serra única. Os rolos de madeira eram transportados por carros de bois e colocados na carreta que corria em cima do canal da pejadoura.

Nesta azenha ocorreu há anos, um episódio trágico, que ficou sempre associado ao seu passado. Certa noite, a Ti Almerinda – a última moleira da Azenha – descera ao cabouco, com a candeia a petróleo, para verificar qualquer problema na entrosga. Com o aparelho a funcionar, a entrosga puxou-lhe a saia e a engrenagem apanhou-a, provocando-lhe a morte. Deixou de funcionar por volta de 1974”.

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