Ponto alto na função de Mordomo da Cruz Paroquial, em Santa Marta de Portuzelo, tal como por todo o Minho, é a sua coordenação e organização do Compasso Pascal. Porém, continuamos a sofrer as agruras da pandemia causada pela Covid-19, com restrições na liturgia, suspendendo-se alguns atos litúrgicos, nomeadamente todos aqueles que possam implicar mais probabilidades de contágio.
E nesses, para além de algumas limitações nas cerimónias próprias do Tríduo Pascal, assume especial significado para toda a região a não realização do compasso, colorida e marcante forma de ir ao encontro dos crentes para manifestarem a sua alegria no Cristo Ressuscitado, recebendo-O em suas casas. Como José Augusto Borlido da Cruz, mais conhecido por José Vianinha, volta a ser o mordomo, tal como noticiamos na edição especial de agosto de 2020, parece-nos a pessoa ideal para nos transmitir as emoções sentidas, sobretudo na Páscoa, em circunstâncias normais e em tempo de pandemia.
EM CIRCUNSTÂNCIAS NORMAIS
O José Vianinha é o Mordomo da Cruz Paroquial desde o dia da padroeira, Santa Marta, em 29 de julho de 2020, mas já tinha assumido este serviço à liturgia no ano de 2013. O curioso é que, para além do Sr. José repetir esta disponibilidade na paróquia, de que há mais exemplos que a seu tempo divulgaremos, também os seus irmãos António (recentemente falecido) e Carlos Alberto viveram esta experiência. Impunha-se questionar como é encarada no lar (esposa e filhos) do Mordomo da Cruz esta forma especial de viver a Páscoa, ao que respondeu: «Encaramos a Páscoa com muita alegria, união, dedicação à causa e muita honra pela atribuição desta responsabilidade. Somos pessoas de fé e para nós a Páscoa é uma forma de introspeção e de renovação da nossa fé, traduzida nas diversas formas de participação em todos os atos que a mordomia acarreta».
A VISITA PASCAL PARA O MORDOMO
À pergunta sobre as emoções experimentadas quando transporta a Cruz em dia de Visita Pascal, a resposta não deixa dúvidas de que se trata de momento único e de especial vivência e testemunho de fé para os mordomos: «Transportar a Cruz tem um simbolismo único e difícil de exprimir por palavras. A fé nem sempre se explica, pois corremos o risco de não saber exprimir o seu significado, sente-se e transmite-se pelos nossos atos e comportamentos. Transportar a cruz é um ato único de amor, fé, crença em Deus e levarmos a todos os santamartenses a ‘notícia’ da Ressurreição de Cristo e a bênção às suas casas».
A VISITA PASCAL NAS CASAS
O mordomo vive a reciprocidade do testemunho da fé com o seu ato, pois não deixa de ser contagiante a mesma fé por ele sentida em quem recebe a Cristo Ressuscitado. Esta, assim vivida de casa em casa, sente-se e paira no ar, invade a paróquia e combina, na perfeição, com a alegria e o colorido que as gentes minhotas sabem transmitir às festas pascais, com mais ou menos foguetes, mais ou menos bombos e gaitas de foles e maior ou menor número de lavradeiras. Na verdade, diz o Vianinha que «Abrir a casa para receber a Cruz é um ato de fé e crença e é querer receber a bênção do Senhor. Cada um que recebe a visita Pascal vive o beijar da cruz à sua maneira e interioriza o significado para si. Mas o sentimento de alegria, amor e orgulho são patentes em todos os rostos, pela forma emotiva como beijam a Cruz e como entoam os cânticos. São momentos únicos para nós e para eles».
VIVÊNCIA DURANTE O ANO
Diz o Vianinha que a guarda da cruz, durante o ano, «é renovação da fé, é a dedicação integral à causa (Mordomia) pois estou um ano ao dispor da paróquia para todos os serviços litúrgicos (funerais, procissões, eucaristias). Não o faço por obrigação mas por gosto e orgulho e com total dedicação livre e desonerada».
Relativamente aos testemunhos partilhados com outros mordomos, sobretudo quanto à emoção experimentada, diz-nos que o «sentimento é geral e comum a todos», acrescentando que «o amor à causa e a dedicação fazem parte de quem assume este cargo».
EM TEMPO DE PANDEMIA
A Páscoa não deixa de se celebrar e a Semana Santa continua a ser a ‘Semana Maior’ da liturgia, mas por razões sanitárias devido à pandemia, torna a não haver este ano Compasso Pascal, além de outros atos litúrgicos, como o Lava-pés na Missa da Última Ceia. Sendo a tradicional Visita Pascal o ponto alto da Mordomia da Cruz, a reação do José Vianinha perante a nova situação é bem demonstrativa da fé que alimenta a esperança paulina em Cristo Ressuscitado.
À nova experiência, diz o Vianinha: «Sou católico praticante, homem já vivido e habituado a adversidades e a aceitá-las como uma aprendizagem e adaptação. A fé permite-me viver o significado da Páscoa à minha maneira, sem tristezas nem mágoas, mas com muita alegria. A Páscoa é renovação da fé para mim e creio que para todos os Santamartenses.
Apesar de não ter havido Compasso Pascal em 2020, muitos manifestaram “viver a Páscoa” ou seja, renovar a fé não só com as suas participações em atos litúrgicos (que foram possíveis na sua maioria) mas também com a colocação de cruzes às suas portas como símbolo da entrada do “Senhor e da sua Ressurreição”. Do mesmo modo, diz que a família «aceita as limitações impostas pela situação de saúde pública que atravessamos. Lamentamos não poder realizar o Compasso Pascal mas não deixamos de “viver a Páscoa” à nossa maneira, com amor e união».
MENSAGEM PARA
OS SANTAMARTENSES
«É tradição o lançamento do fogo no sábado de Aleluia, domingo e segunda-feira de Páscoa. Contudo, este ano, pelas limitações legais existentes e apesar de já termos solicitado a autorização para a emissão da competente licença especial de ruído, ainda estamos a aguardar decisão. É provável que não se consiga obter a referida autorização/licença. Se assim for, compreendemos a posição adotada pelo organismo camarário, justificada pelos motivos de força maior que subsistem e certamente todos os santamartenses também.
Paralelamente, a Mordomia irá enviar a todos, simbolicamente, um postal subscrito pelo Mordomo com os votos de uma Santa e Feliz Páscoa.
Aproveito este espaço que me foi concedido para renovar esses mesmos votos, acrescentando muita Saúde para todos e um Bem haja».
Agradecemos ao José Vianinha a sua colaboração para melhor entendermos a felicidade experimentada pela Mordomia da Cruz e acompanhámo-lo nos votos de Feliz Páscoa para todos os assinantes e leitores.
CELEBRAÇÕES DA SEMANA SANTA
Dia 01, quinta-feira Santa, às 21h: Missa da Ceia do Senhor.
Dia 02, sexta-feira Santa (dia de jejum e abstinência): às 15h: Celebração da Paixão do Senhor; às 21h: Via-Sacra.
Dia 03, sábado Santo, às 21h: Vigília Pascal.
Dia 04, Domingo de Páscoa: às 08h30: 1.ª Missa do Domingo de Páscoa, com veneração da Cruz Paroquial; às 11h: 2.ª Missa do Domingo de Páscoa, com veneração da Cruz Paroquial.
Dia 05, segunda-feira de Páscoa, às 19h: Celebração da Eucaristia.