“Todos somos especialistas em crises”

O CEO do Novo Banco falou, em exclusivo, ao A AURORA DO LIMA e expressou a relação de proximidade que tem ao território do Alto Minho e da evolução que os espaços físicos vão sofrer nos próximos tempos.

António Ramalho sublinhou que a região tem um cunho industrial superior à média nacional, no entanto precisa inverter a tendência da diminuição demográfica e da baixa qualificação da mão de obra.

Para o CEO do Novo Banco, a pós pandemia deverá trazer uma “vingança”, que passará pelo aumento do consumo nos bens imediatos, ao contrário do que aconteceu na última crise, cujo consumo aumentou na aquisição de bens duradouros.

Fizeram um estudo sobre a realidade económica da região. Qual o objetivo?
O Novo Banco está a realizar um conjunto de iniciativas denominado de “Portugal que faz” e antes fazemos um estudo sobre a região. É um estudo para percebermos o que as pessoas nos dizem. O Alto Minho é uma área onde há uma grande unidade daquilo que se passou neste período. Demonstra que apesar das dificuldades há um crescimento homogéneo de todas as atividades.

Quais os pontos fracos da região?
Há pontos fracos evidentes. O primeiro é a quebra demográfica, isto é, esta zona está a perder mais população do que a média nacional, quase o dobro. Depois temos ainda um nível de qualificação abaixo daquilo que é necessário. E aqui é particularmente grave, porque temos muito pouco desemprego. Só temos desemprego técnico. E, portanto, a falta de mão de obra qualificada implica a importação de recursos humanos, porque não os há na região.

E os fortes?
A região tem um cunho industrial maior do que a média portuguesa. Tem estado a crescer homogeneamente na criação de empresas, no desenvolvimento e no emprego que essas criam e também no crescimento do investimento privado. E todos estes valores, em relação à variação, estão cerca de 30 a 40% acima da média nacional. O que significa que se está a criar valor na região. A região continua a estar abaixo da média nacional, portanto tem ainda um longo caminho a percorrer. Um dos setores que está a ter um crescimento grande é o turismo

Este foi também um dos setores mais afetados pela pandemia.
Sim, e o crescimento de turistas na região era sobretudo estrangeiros.

Mas em relação aos pontos fortes, faltou referir algum?
Nota-se aqui um benefício daquilo que chamo a internacionalização regional. E isso vê-se muito no crescimento das exportações. Uma grande interligação com Espanha, sobretudo com a Galiza.

Quais foram as principais conclusões?
Precisamos de reduzir os pontos fracos, a demografia e a qualificação e de continuar a apostar nesta homogeneidade e nesta relação muito preferencial desta região, até porque as exportações vão ter tendência, no próximo período, a serem de proximidade. Os investimentos vão ser de proximidade, as cadeias serão de proximidade. E isso significa que temos um benefício de toda a região do Alto Minho e a sua ligação à Galiza. Esta ligação é mais saudável do que as ligações com outras regiões de Espanha. Eu prevejo um bom futuro, se tivermos bons sinais do ponto de vista da saúde.

O estudo pode ser entendido como um farol para as empresas?
Todos os estudos devem interessar às empresas e este estudo pode ser útil. Neste debate, tivemos representantes do território, nomeadamente do setor empresarial, académico e do mar.

Quais as perspetivas para o retomar da economia no pós-pandemia?
Vamos ter um crescimento abaixo das expectativas iniciais, mas ainda assim forte a partir do segundo semestre. Julgo que vamos ter um ano turístico ainda complexo. Alguns setores serão melhores, nomeadamente os setores onde não há tanto turismo de massas, mas mais seletivo. Vamos ter o aumento das expectativas com o apoio do que foi denominado de “Bazuca” europeia. Mas ainda vai tudo depender da imunidade coletiva conseguida pela administração de vacinas. Se tudo isto correr bem iremos ter um final de 2021 promissor e um 2022 particularmente interessante do ponto de vista da retoma de uma linha de tendência exportadora e de evolução do turismo. E já agora ajustada às novas tendências comportamentais que a pandemia vai induzir. Ainda hoje não sabemos quais serão. Como costumo dizer, todos somos especialistas em crises, por isso tornamo-nos mais resilientes.

Há pouco, durante a conferência, disse que “todas as crises têm uma vingança”. Já se sabe qual será a desta?
Foi uma espécie de eufemismo. Há sempre uma resposta que a procura dá aos efeitos da crise. Na última crise foi uma vingança, digamos assim, na aquisição de bens duradouros, nomeadamente de habitações, automóveis, etc. Esta crise tem a particularidade de não ser uma crise muito longa, e onde a gestão de expectativas se faz no sentido inverso. Nós temos medo que a pandemia dure muito, mas temos a expectativa que a vacina ajude a atingir a imunidade de grupo. Portanto, é normal que a “vingança” seja a aquisição de bens de consumo mais imediatos. Ainda estamos a estudar, mas talvez não me engane a achar que a vingança ou a mitigação acabará por despoletar o consumo significativo de bens imediatos. Se olharmos para as filas às portas dos centros comerciais na abertura das lojas não sei se não haverá sintomas de que temos razão.

Falou ainda do silêncio sobre o papel da Banca nesta altura.
Nós o que pretendemos é apoio às empresas. É mais interessante para nós o elogio do empresário do que o aplauso dos decisores políticos.

Foi também dito, pelo presidente da Adega Cooperativa de Monção, que a Banca apresenta várias soluções para as empresas.
Sim, é verdade. Acho que a Banca tem uma capacidade de resposta extraordinária. Foi muito eficaz quer no modelo das moratórias quer no modelo das linhas de apoio. E no início foi muito criticada, mas se olharmos hoje, com o distanciamento, vemos que em três meses tivemos todo o sistema de linhas e moratórias a funcionar de forma muito eficaz. Agora vamos ter de ser tão bons a acabar com as moratórias e a gerir as linhas, mas também a trabalhar para a capitalização das empresas como fomos até agora. Não queremos o aplauso dos decisores políticos o que queremos é o reconhecimento dos nossos clientes.

Vão continuar presentes fisicamente, como até agora, no Alto Minho ou vão acompanhar a tendência da banca em encerrar balcões?
Nós vamos ter uma evolução muito significativa do nosso modelo de distribuição. Iremos ter uma solução completamente omnicanal, isto é, na nossa opinião, o consumidor depois desta aceleração digital e da fidelidade ao telemóvel. O hábito de resolver muitas coisas através deste dispositivo reabriu um conceito de distribuição diferente, por isso vamos fazer uma alteração profunda dos nossos espaços. Iremos ter espaços completamente diferentes e renovados, iremos ter espaços de encontro, trabalho, deixando de ser apenas balcões. Em breve teremos estes espaços na região. Dentro de alguns anos no Novo Banco não há balcões, há espaços …

Mas vão terminar com a proximidade?
Nunca, pelo contrário. Nós temos uma regra baseada nos quatro P´s, que são o P de Portugalidade. Sermos um banco português e que trabalha para Portugal. Não temos operações fora de Portugal. O segundo P, é de parcerias, o que é uma prova de que aceitamos trabalhar, em conjunto, para servir melhor os nossos clientes. Depois temos o P de produtividade, que aborda a rapidez e eficiência que precisamos de dar. Mas o quarto P é o da proximidade e não queremos perder isso, pelo contrário queremos estar o mais próximo possível das pessoas e queremos estar com as pessoas em todos os momentos.

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