Não sei se desta vez vou chegar ao fim do que te queria dizer. Tentei várias vezes…
Este nó que me sobe do peito para a garganta e teima em transformar-se num rio salgado a escorrer-me pelo rosto, tem ganho a batalha e acabo por desistir.
Faz algumas semanas que partiste….
Não sei contar…
Parece muito tempo, quando não ouço a tua voz a chamar-me…
Parece pouco tempo quando ainda sinto o teu cheiro, quando me esqueço que já não chegas a casa para jantar…
Nunca imaginei que um dia escreveria publicamente sobre ti, mas dei comigo a pensar que ficarias feliz.
Porque a escrita fez sempre parte do teu ADN, não haveria melhor local para depositar o meu testemunho que um jornal…este teu jornal…que tantas vezes enriqueceste com a tua mensagem, na defesa das causas coletivas por que lutavas, em que acreditavas.
Não é fácil falar de ti porque tudo o que eu possa dizer, são apenas palavras…
Aquilo que são os sentimentos, esses, ficam para além do que os escritos possam dizer.
Vou apenas tentar levantar com palavras, um pouquinho do véu que esconde o infinito dos meus sentimentos.
Conheço algumas pessoas que admiro, algumas pessoas que respeito pelo que são, ou pelo que fazem, mas nunca conheci ninguém que reunisse todas as tuas qualidades humanas.
Foste um exemplo de seriedade, honestidade, dedicação à família e à comunidade.
Tudo isso sem esforço. Fazia parte do teu ser, saía-te da alma naturalmente, do sangue calmo que te corria nas veias…
Aprendi contigo o significado dos sentimentos mais nobres do ser humano: o respeito pelo próximo, a dignidade, a amizade e a solidariedade.
Mais do que uma figura que moldou o meu caráter, foste um exemplo que segui e seguirei para o resto da minha vida.
Durante a minha infância foste o meu herói (lembro-me bem do orgulho com que mostrava aos meus amigos, o jornal com a tua foto a entrevistar o Eusébio).
Foste a minha inspiração na adolescência e foste o exemplo de Homem de carácter, que enriquece a existência do ser humano no tempo de vida que nos é concedido neste mundo.
O teu modo sincero, simples e solidário de viver, ensinaram-me os verdadeiros valores da vida.
Um dos teus muitos amigos disse-me quando partiste, que para além do meu pai… eras o Zé Moreira e que o mundo tinha ficado mais pobre naquele dia!
Todos aqueles que tiveram o privilégio de se cruzar contigo ao longo das 84 primaveras que floriste, compreendem bem o significado dessas palavras.
O cidadão exemplar, o homem maravilhoso, e acima de tudo….. o PAI, ficarão para sempre no legado que deixaste. Até um dia,
A tua filha.