O sol vem sempre
vermelho e quente
o sol não mente
queimando a sede e roendo a fome
de tanta gente inocente sem nome.
Também o sol vem sempre
pálido e frio
o sol não mente
congelando a sede e empedrando a fome
ainda que a gente o não veja e pareça ausente.
E também o deserto
o deserto não mente
o deserto sempre aberto na alma desta gente
ainda que pareça certo o caminho em frente.
Vem sempre a dor na secura das carnes
a dor não mente
ainda que ao mundo pouco importe
a dor que dói a tanta gente.
E também a alma não mente
o sofrimento no esbugalhar dos olhos
ainda que a mente enlouqueça
e até se esqueça de que é alma de gente.
E morre a paz
a paz podre não mente
ainda que na vaga esperança da sorte
não seja mais do que a paz da morte.
Adão Cruz