Maria João Lima, bordadeira, cumpriu “um sonho de criança” e aos 25 anos é a mordoma do cartaz da “romaria das romarias”. O traje à vianesa verde das terras de Geraz está no centro das atenções e servirá para divulgar as festas da Senhora d’ Agonia, que regressam em formato presencial e com cinco dias de animação.
Depois de nos dois últimos anos, a Romaria ter sido vivida sobretudo de forma virtual, a Comissão de Festas espera que “a normalidade” regresse este ano e apresentou, ao final da tarde da última quinta-feira, um programa de cinco dias, com regresso dos principais quadros: desfile da mordomia; cortejo etnográfico; confeção dos tapetes nas ruas da Ribeira; procissão ao mar; serenata, entre outros.
“Que se trajem as nossas mordomas e as mulheres da Ribeira. Os pescadores que preparem as camisas e as flores. É tempo de tingir o sal e preparar os carros”, desafiava o presidente da Comissão de Festas. António Cruz garantia: “a Romaria da Senhora d’ Agonia está de volta. Serão cinco dias e 45 momentos”. Aquele reforçava que apesar dos momentos serem presenciais vão continjuar com as transmissões online.
No dia 06 de agosto, acontece a inauguração da exposição/feira de Artesanato. E no dia 11, iniciam-se as festividades religiosas.
O cartaz foi elaborado por Renan Morgado, natural do Brasil, mas a residir em Monção. O jovem explica o cartaz. “A inspiração foi dar a ideia de movimento e novos tempos com a chegada da Romaria de 2022. É hora de sair à rua e festejar este grande momento de Viana do Castelo. Além disso, queria que o verde estivesse presente para falarmos de esperança. Esperança num presente melhor, esperança de que tudo vai melhorar, esperança que a Romaria de 2022 seja o regresso da nossa vida normal”.
Renan Morgado já concorre ao concurso do cartaz desde 2018 e este ano ficou em primeiro lugar. “Eu queria o momento correto da dança. Tive que procurar aquele movimento, em que pudesse valorizar muitos conceitos ao mesmo tempo. Ou seja, o traje, a felicidade e a dança, sem nunca esquecer que a escolha da Maria João para completar esta conceção foi muito importante”. Confessa que “para um brasileiro” até “poderia não ter nenhum” interesse participar neste concurso, mas garante que não é o seu caso: “As minhas raízes estão no Alto Minho, e sempre fui habituado às romarias do nosso Minho. Eu conheci muito de perto a Romaria d’Agonia, tive a oportunidade de participar em muitos momentos”.
Maria João assegurava que estava “feliz” e que todos os obstáculos lhe deram mais força para continuar. “Quando comecei a defender as tradições dos nossos antepassados fui contra uma ideologia sobre este traje [terras de Geraz] e isso teve consequência. Posso ter feito algumas coisas erradas, mas algumas devem estar bem…”, dizia. Acrescentando que através de pesquisas sobre a origem do traje chegou à informação de que o mesmo foi usado pelas raparigas das terras de Geraz, aquando da visita da rainha D. Maria II a Viana do Castelo. Em homenagem à Casa de Bragança, que tinha a cor verde, resolveram vestir-se dessa cor.
Contrariamente ao que outros defendem, Maria João diz que o bordado da camisa é branco, “os lenços eram traçados e as franjas eram soltas. E foi isso que tentei trazer de volta e não foi bem visto …”, revela. Admitindo que pode não ter o traje “original”, mas está o mais próximo daquele.
Com várias peças em ouro, que pertenceram à bisavó, Maria João conta que “posso dizer que duas das mulheres mais importantes da minha vida o usaram, e quando o uso ao peito sinto que de alguma forma estão comigo e que estou a continuar o legado dos meus antepassados. E isso dá-me muita força”.
Estudo para perceber impacto
Luís Nobre anunciou a realização do primeiro estudo “exaustivo” sobre o impacto económico e social da Romaria d’Agonia, cujas conclusões serão utilizadas na preparação da edição do próximo ano.
O autarca vianense manifestava que “vamos fazer já este ano um estudo que nos permita estimar o impacto socioeconómico, cultural e artístico que a Romaria d’Agonia tem não só na cidade, como em todo o concelho”.
Para o edil socialista, as festas contribuem para a afirmação do território, mas pretende que estas sejam mobilizadoras do desenvolvimento. “Não vamos reinventar as festas, não vamos perder a alma e a intensidade que é garantida pela Ribeira, pelas mordomas, pelos grupos folclóricos, pelos bombos… Esses é que são os atores principais, nós temos de proporcionar as ferramentas para que eles possam utilizar da melhor forma, mais genuína e sentida”, afirma.