Às vezes quando passo, casualmente, pelo jardim da cidade de Viana do Castelo, vejo algumas pessoas de idade a jogar às cartas (suponho que é à “sueca”), servindo-se dos bancos de madeira e das mesas, simples, improvisadas, com alguns espectadores, de pé, a usufruir do acontecimento… Passo e fico a meditar se aquela “cena” não é mais do que uma das muitas fugas que alguns homens possuem para se distrair e matar a solidão do modesto interior das suas casas…
A solidão até pode ser um sentimento profundo que vai preocupando muitas pessoas e, mais ainda, quando elas se reformam vítimas de diversas doenças da “velhice”…
Porém, o homem precisa de falar. Precisa de desabafar com o seu semelhante — quando é marginalizado procura, inclusive, a companhia de um animal doméstico…
O combate à solidão passa pela leitura de bons livros, em poesia ou prosa; de ouvir boa música, ver bom teatro e cinema. Corresponder ao carinho e à amizade de todos os que os acompanham pela vida fora, sejam homens ou mulheres, e até animais…
Estou em crer que mesmo no sector desportivo (nas suas várias modalidades), os espectadores são abraçados por pessoas que nunca viram em parte nenhuma! Pergunto: não será essa comunhão espontânea de afectos uma forma de espantar a solidão? A melancolia?
A solidão pode ter laivos de “tragédia” quando não se vai visitar um amigo que está na cama de um hospital ou na prisão…
Já o grande poeta Antero de Quental dizia que “de todos os males o pior foi ter nascido”.
Um dia destes, ao regressar, a pé, de um breve passeio por esta belíssima cidade (de serra, monte, rio e mar), tive de percorrer parte da rua da Bandeira, onde existe um estabelecimento de venda de discos e, às tantas, os meus ouvidos foram apanhados, sem querer, por um trecho de um conjunto espanhol denominado “Gipsy Kings”, bem ritmado e alegre que começa assim:
“Caminando por la calle yo te vi! Caminando por la calle yo te vi! Ya un día yo me enamorei de ti… Ya un día yo me enamorei de ti… – No-na-no-la-lo-la – Na-la-la-la-la-la-la-la; Vai moreno! Força moreno!”.
Simples, não é? Fiquei deliciado e disse cá para com os meus botões: — A vida continua, Alcino! Há que deixar as tristezas para trás das costas!…
No dia 3 de Outubro de 2018 fiz 92 anos de idade e, vejam lá, de véspera, quando ia para o café, encontrei, no passeio, uma moeda de 0,50 cêntimos. Fiquei espantado! Olhei para um lado e para o outro e, como não vi ninguém, baixei-me, peguei na moeda e meti-a no bolso. Foi como se me tivesse saído a “sorte grande”!
Dedico esta pequena crónica ao “A AURORA DO LIMA”, aos seus funcionários, trabalhadores, ao seu diretor, amigos e não-amigos, de uma maneira geral, a toda a gente que vive neste mundo, desejando-lhes Saúde, Amor e Liberdade!
(Foto: “Folha do Domingo”)
Nota: As nossas saudações e agradecimentos, pela dedicatória deste nosso simpático colaborador, que muito nos sensibilizou, e a quem desejamos muitos mais risonhos anos de vida!