A frase “o homem é um animal político” é uma célebre expressão atribuída a Aristóteles, filósofo grego da antiguidade clássica, uma referência intemporal e mundial do pensamento filosófico que continua a manter-se actual. Foi partindo deste pensamento que me ocorreu abordar algumas das razões que estarão por trás das transformações políticas que vão ocorrendo nos países, em que se põem em causa as liberdades geradas por democracias viciadas para se preferir um regime autoritário. Se todo o homem (entenda-se ser humano) é um animal político, ele interage, com mais ou menos interesse, na escolha dos políticos e na definição das políticas que hão-de governar o seu país e decidir sobre o destino colectivo.
No último artigo que escrevi para este jornal, subordinado ao título “Sinais dos tempos”, afirmei que a natureza parece andar zangada com o ser humano, tantas são as desgraças que vão acontecendo. Pois não deixa de ser também uma verdade que os cidadãos de muitos países estão zangados com os seus políticos, em geral, pelos péssimos exemplos ostentados no desempenho das suas funções, que, devendo ser direccionadas para o bem comum — o fim último da política — são-no, antes, viradas para si próprios, para os seus interesses pessoais.
Torna-se, assim, perfeitamente natural e politicamente aceitável que os cidadãos queiram dar uma vassourada no regime que os tem governado — cujas liberdades não matam a fome nem a sede, mas antes promovem estes males — como demonstração do desespero em que vivem e, bem assim, gerarem outras maiorias que imponham autoridade, que escorracem os corruptos e defendam os valores éticos, a fim de que todos possam ter um lugar ao sol.
É neste contexto de egoísmos, de políticos corruptos, de aberrações legislativas, de miséria humana cada vez mais acentuada, de enriquecimento fácil para uns quantos, de protecção aos criminosos, de alterações às leis da natureza, das injustiças inqualificáveis, enfim, deste mundo apodrecido, que surge uma nova consciência política de vontade indómita de renovação, traduzida na alteração das ideologias que governam as nações.
Aparecem, então, os movimentos ditos de extrema-direita, com outros valores, e que mais não significam do que o combate a uma corrupção imparável que só deixou maus exemplos.
Pretendem estes movimentos, simplesmente, autoridade, ética e oportunidades para todos, o que se pode conseguir por outros caminhos que não aqueles que têm sido trilhados. Se para obter tal desiderato é necessário limitar algumas liberdades, está visto que existe um crescendo de argumentos, de vontades e de dinâmicas. Para que servem as amplas liberdades se num país há milhões a passar fome e a viver no limiar da pobreza, enquanto outros roubam descaradamente e ninguém é capaz de os parar?
Tenho seguido o ambiente das eleições no Brasil, que representa exactamente o espelho do que antecede, bem como o cinismo com que muitos políticos e órgãos de comunicação social nacionais comentaram a campanha de Jair Bolsonaro, tentando insuflar medo nos brasileiros e desprezo pelo vencedor. Será porque está na moda ser contra a direita, ou será mesmo sentido? A imagem que deixam e que envergonha Portugal é que não passam de uma corja de hipócritas, porque estou certo de que muitos políticos que criticaram o novo presidente eleito ainda lhe vão fazer vénias e lamber as botas! Cá estaremos para ver.
Impõe-se que haja respeito pelo povo brasileiro, que elegeu aquele que lhe transmitiu esperança por um futuro melhor e que, neste caso, foi, com toda a legitimidade e esperança num futuro melhor, um político de direita. E porque é que haveria de ser de esquerda, se a esquerda deixou um rasto de corrupção inimaginável, uma actividade criminosa fora de controlo e uma economia debilitada, quando o país tem um enorme potencial económico? Será que os brasileiros não têm direito à segurança, à autoridade, à paz social e a um Estado forte?
Como no Brasil, já na Europa outras nações escolheram regimes políticos mais musculados, e creio que este movimento não vai parar. Em todos os casos só há que respeitar a vontade soberana dos povos e não andar sistematicamente a glorificar as esquerdas só porque é entendido por alguns opinion makers como politicamente correcto.
O homem (ser humano), como animal político que é, tem de ser proactivo, lutando pelo bem-comum. Atente-se ao exemplo que nos dá o Papa Francisco, um jesuíta autêntico não submetido a quaisquer interesses, que tem feito uma limpeza na corrupção a todos os níveis existente no seio da Igreja Católica, lutando pela verdade e pela transparência. Não é de esquerda nem de direita; é o pastor máximo do mundo católico que se rege pelos valores da fé. Que o seu exemplo ilumine os responsáveis pelas nações, para que tenhamos um mundo mais justo e solidário.