A maior parte dos que trabalharam nos Estaleiros Navais e o conheceram estão-lhe para sempre gratos. Homem sóbrio, discreto, aparentemente pouco falador e nada dado a excessos de qualquer ordem, mas com um forte sentido de responsabilidade. Enquanto presidente do Conselho de Gerência dos ENVC, foi um homem do seu tempo, talvez adequado para aquele tempo, dadas as difíceis circunstâncias que desde há décadas vive a construção naval. Teve sempre o sentido de contas equilibradas, mas, nunca esquecendo os ajustes necessários para cada momento. Juntamente com os engenheiros Óscar Mota e Carlos Pimpão, protagonizou um dos momentos mais ricos da empresa, com significativos resultados positivos de exercício ao longo de mais de uma década. Por essa razão, os ENVC conseguem, a vários níveis, um conjunto de indicadores que lhe permitem ser eleitos pelo jornal Diário de Notícias como a empresa do ano em 1984 e, pelo semanário Expresso, a superempresa do ano em 1985.
Luís Lacerda, entrou nos ENVC em 1951, passando à condição de gerente delegado em 1958, e de presidente do Conselho de Gerência em 1961, depois da morte de seu tio, Jackes Lacerda, homem que tinha sido fundamental na salvação dos Estaleiros, quando o Parry Son adquiriu a maioria do capital social em 1950. Faleceu a 13 de dezembro de 1986, talvez na altura em que os ENVC mais dele precisavam. Mercê dos bons resultados de exercício que os Estaleiros estavam a obter, o Conselho de Gerência por si presidido, criou na base do D. Lei nº 396/86, em 10 de dezembro de 1987, com o valor de 1.270.118 contos, um dos primeiros fundos de pensões em Portugal. É esse fundo que ainda hoje complementa a pensão de algumas centenas de trabalhadores reformados. Por tudo, o que nesta nota curta se diz e o muito que se omitiu, Luís Lacerda fica como uma das maiores referências da Indústria Naval em Viana do Castelo.
G.F.M.