Mérito ou antiguidade?

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Humberto Pinho da Silva

Durante muitos anos, a antiguidade, era – como se costumava dizer, – um posto.
As promoções, dependiam: dos anos de serviço, da assiduidade à empresa ou firma.
Nas últimas décadas, implantou-se – e bem, – o mérito.
Digo e bem, quando o mérito não depende da cor política, credo, amizade ou outra coisa mais, que por respeito ao leitor, peço licença para não revelar.
Conheci – já lá vão muitos anos, – pobre homem, que mourejou toda a vida, na mesma empresa.
Doente, com sacrifício, apresentava-se no local de trabalho, tentando, com esforço e dedicação, ser leal aos superiores hierárquicos.
Os anos correram… e muitos foram os que visaram, ao verem-no na tarefa de aumentar a receita da empresa:
– “Vais receber a medalha de cortiça! Ninguém te reconhece!…”
Mas o homem, na sua inocência, pensava lá consigo: “Um dia alguém há-de fazer-me justiça.”
Os colegas de trabalho, riam-se à socapa, do zelo e do propósito, em tudo, contribuir para o enriquecimento da firma.
Por fim, já tinha trinta anos de casa, alguém, lembrou-se de o louvar. Foi motivo de orgulho. Não pelo louvor, mas pelo reconhecimento.
Andava alegre como um cuco; como sino em dia de Aleluia, quando o chamaram ao gabinete do diretor.
Entrou radiante. Sabia que se preparava importante reestruturação. Reestruturação, que equivalia aumento de salário. Semanas antes, garantiram-lhe que as alterações, em nada o iriam prejudicar.
Diante do diretor, este, após agradecer a dedicação e lealdade, disse-lhe:
– “Como sabe vai haver reestruturação de serviço, e o senhor vai ser dispensado… Por mim, ficava; mas, eles não querem!…”
O pobre homem teve um desfalecimento.
-”Mas Senhor Doutor… – balbuciou a medo, gaguejando. – Quem são eles?! …”
– “ Foram eles! …Foram eles! … – Pronunciou, o diretor, em voz intimadora; e saiu, deixando o ingénuo trabalhador atónito.
Colocaram-no – como se costuma dizer, – na prateleira, esperando a chegada da reforma.
Pelo menos tiveram a caridade de o tratarem com respeito e dignidade.
Disseram-lhe, então, que fosse para o tribunal. Que fosse ao sindicato… Mas, no íntimo, sabia que nada adiantava.
Um dia, encontrei-o, já no final da vida, amargurado. Voltou-se para mim, deu-me um abraço servil, e declarou:
– “Podia ter reforma mais confortável, mas acreditei: que, zelando os interesses da empresa, era bastante… Disseram-me para me queixar… Olhe: aguardo que tudo seja resolvido no Tribunal de Cristo… Mas ainda penso de mim para mim: que força tão poderosa era, que conseguiu abafar a consciência de homem, que parecia tão corajoso?”
A dedicação, infelizmente, não chega…, é preciso alguma coisa mais… para se ser promovido e singrar na vida…
Mas isso, não é para gente simples, que acredita na justiça humana e na palavra dos homens.

(Imagem: “Nei Alberto Pies”)

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