O “Prédio Coutinho”

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Aníbal Alcino

Estou convencido que quando o falecido Senhor Coutinho regressou de África para o seu país, mais propriamente para Viana do Castelo, como bom minhoto e português que era, vinha com a ideia fixa de valorizar esta cidade, mandando construir um prédio que ombreasse com tantos outros que foram construídos, na ocasião, em quase todas as cidades e capitais do mundo…
Porém, o amigo Coutinho não foi devidamente “esclarecido” e mandou construir aquele edifício, em altura, com uma panorâmica extraordinária, é certo, mas que destoava, ou esmaga, a harmonia horizontal dos restantes prédios da cidade.
Gastou-se uma fortuna na sua construção e chamou um bom arquitecto para lhe construir um imóvel de doze andares, que mais tarde passou a ter treze (não sei porque tralhas ou por malhas) no melhor passeio da urbe, que fica junto ao lindíssimo jardim de Viana, banhada pelo rio Lima.

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O arquitecto Artur Loureiro, um dia, passando por mim numa das ruas da cidade, perguntou-me: Ó Alcino, como é que deixaram construir este “monstro” num lugar tão belo?!
Ora, o Artur Loureiro foi meu colega, aquando estudamos na Escola Superior de Belas Artes do Porto, na Rua Rodrigues de Freitas – ele como arquitecto e eu como pintor. Ele, o Loureiro, foi o autor do afamado edifício situado no Palácio de Cristal, com aquela arrojada “calote” a que mais tarde se deu o nome de Pavilhão Rosa Mota.
O edifício do Coutinho não é um “monstro”. É, até, um belo projecto arquitectónico, para a época, com algumas virtualidades construtivas…
Onde está o erro?! Onde está o mal?! Foi, apenas, porque foi concebido e construído em altura exagerada para aquele lugar, destruindo um tanto a horizontalidade dos prédios vizinhos?
Mas, nisto tudo, creio, o Senhor Coutinho não teve culpa nenhuma… Rodeou-se, apenas, de pessoas que não o souberam aconselhar… Bastava que o edifício ficasse a meio da altura que possui presentemente. Foi criticado e quase “chicoteado”, perdoem o termo, por querer concretizar um “sonho” que o perseguia, por certo, há muitos anos…
A Câmara Municipal de Viana, com o seu presidente e vereadores – vejam lá, até possuía à frente do Pelouro da Cultura, um colega, falecido, de nome Álvaro Rocha, que era pintor e ceramista, e aprovaram, plenamente, a construção e concretização do edifício, que puseram rapidamente à venda, para quem pudesse comprar algumas das suas muitas frações e apartamentos a fim de gozarem uma paisagem inexcedível em qualquer parte do mundo.
As pessoas, com “posses”, nesse tempo, e com alguns “sacrifícios” de ordem económica, compraram partes do seu todo, ficando convencidos (como eu ficaria) que jamais, algum dia, tivesse que sair, “à força”, de um apartamento legalmente comprado, com escritura feita, etc., etc..
Eu não contesto que por uma questão de beleza estética (tendo em vista, apenas, a sua colocação em altura naquele lugar) a Câmara e alguns “intelectuais” se sintam constrangidos… Mas o mal está feito. O edifício foi construído, legalmente, dentro da lei. Não estava sujo. Não estava a cair de podre. Estava sólido, por isso, tudo o resto não tem sentido… Quanto a mim, é injustificável expulsar, à força, todos os ,indivíduos que lá habitam legalmente.

Já agora, a propósito da crónica que anteriormente escrevi neste “Aurora do Lima”, sobre a cor da pele humana, em que alguns artistas geniais pintaram, nas suas telas, ou paredes, os corpos nus de belíssimas mulheres, ou homens, esclareço o seguinte: Rubens era flamengo. Ingres era francês. Caravajo, escreve-se “Caravajio”, era italiano.

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