Bombeiros lamentam não terem sido ouvidos no 112 transfronteiriço

A Federação de Bombeiros de Viana do Castelo manifestou hoje “total estupefação e desagrado” por não ter sido “minimamente” tida nem achada no processo negocial e, na quarta-feira, na celebração do protocolo que cria o 112 transfronteiriço.

Em comunicado enviado às redações, o presidente da Federação de Bombeiros de Viana do Castelo, Germano Amorim, exigiu esclarecimentos à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-NORTE) sobre o protocolo 112 Transfronteiriço que vai ser celebrado, na quarta-feira, em Valença.Em causa está o 112 Transfronteiriço deverá estar a funcionar em toda a fronteira entre Portugal e Espanha em 2023 que pretende garantir uma resposta de urgência em saúde para portugueses e espanhóis em qualquer lado da fronteira, melhorando o serviço e racionalizando os meios.Em novembro, durante a última cimeira ibérica, a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, anunciou a assinatura de um protocolo para formalizar a rede do 112 Transfronteiriço, após vários anos de experiências de cooperação entre o Norte de Portugal e a Galiza ao nível da proteção civil.

Na altura, explicou que o protocolo é “um projeto-piloto para assistência médica de urgência entre a Galiza e a região Norte de Portugal, que entrará logo em funcionamento após a assinatura”, operacionalizado Instituto Nacional de Emergência Médica de Portugal (INEM) e pela entidade de saúde da Galiza.

Na quarta-feira, na pousada de São Teotónio, em Valença, no distrito de Viana do Castelo, será assinado o memorando de entendimento do 112 Transfronteiriço, que prevê a criação do primeiro serviço de emergência médica inter-regional entre Portugal e Espanha, entre o Norte e a Galiza. O projeto-piloto envolve o INEM e a sua instituição homóloga galega, a AXEGA.

Hoje, a Federação de Bombeiros do Alto Minho queixou-se de ter ficado fora do processo quando, referiu em comunicado, “é do exaustivo conhecimento da população que são os bombeiros a realizar mais de 90% dos serviços de emergência médica pré-hospitalar a preços ainda altamente deficitários para os bombeiros”.

“O INEM não tem condições humanas, nem estruturais para fazer mais do que cerca de 10% desse serviço e no entanto é quem dá as cartas, distribui o jogo e corta, consoante o que lhes é conveniente”, sustenta a federação que tem sede em Arcos de Valdevez.

A federação acrescenta “não saber quanto vai custar, quem vai fazer os serviços, e, se incluem os bombeiros”.

“Em suma, não sabemos rigorosamente nada. Os bombeiros não passam de joguetes nas mãos deste Instituto Nacional e de demais responsáveis institucionais na área da proteção civil. Não é admissível e não continuaremos a tolerar mais este tipo de comportamento que é desprezível e errático e que apenas põe em causa o funcionamento de um sistema assente em bombeiros, em claro prejuízo para toda a população”, sustenta.

A federação garantiu já ter alertado “por inúmeras vezes que a emergência médica pré-hospitalar tem de ser urgentemente revista e tem de haver um acentuadíssimo esforço acrescido do Estado para lhe dar cumprimento devido, com aumento de preços e criação de equipas de intervenção permanente na área de pré-emergência hospitalar”.

“Não podemos sustentar tanta despesa a preços tão baixos. Haverá mais gente a precisar de emergência médica e não poderá tê-la. Foi enviada uma carta ao senhor presidente da CCDR-N, a pedir os muitos e devidos esclarecimentos sobre o que se passou e vamos aguardar pelas respostas, que não poderão nunca ser satisfatórias já que, aparentemente, o processo estará concluído, sendo os bombeiros tratados como os párias do sistema”, reivindica.

A federação disse ser “lamentável e altamente prejudicial para a população e a sua saúde de um distrito que continua a ter meses de espera por pagamento de dívidas da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM)”.

“O Hospital de Viana do Castelo não paga as suas dívidas a tempo e horas, deixando arrastar a situação por períodos superiores a seis meses. Já foi dito ao presidente deste hospital, que tal não é aceitável e sustentável de qualquer ponto de vista. Não se pode gerir uma casa com dívidas de milhares de euros do Estado para transporte de doentes. Inaceitável. Já reunimos e apenas surtiu parcialmente efeito, mas a situação voltou à normal situação de haver mais de seis meses de dívidas acumuladas de milhares de euros a todas as associações do distrito”, adianta a nota.

A federação de Bombeiros do Alto Minho adiantou que irá “ponderar a adoção de estratégias mais radicais já que a via do diálogo, lamentavelmente, pouco efeito surtiu”.

Lusa

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