Como é habitual a organização desta tradição é da responsabilidade da Ronda Típica de Carreço, associação que se dedica a este evento com toda a sua arte, imaginação, e entrega para deste modo não permitir que se perca esta típica tradição carrecense, que com muito orgulho, bairrismo, e porque não até com um pouco de vaidade, vemos ano após ano a transmitir-se de geração em geração. O povo de Carreço dedica muito carinho a esta tradição.
Nunca é demais referir que foi a Ronda Típica a obreira da recuperação da tradição da Serração da Velha, isto é que a reativou depois de alguns anos estar inativa, resultado direto da inércia dos jovens de então que não realizaram aquilo que muitas gerações anteriores fizeram com muito empenho e dedicação.
Em meados do séc. XX e anos mais tarde, eram os jovens do sexo masculino do respetivo lugar os obreiros desta tradição. Faziam um peditório para construir a velha, redigiam o testamento, e orientavam o cortejo. No final era queimada a Velha, e o testamento era lido nas várias paragens do cortejo.
Recordemos que nessa época não havia iluminação pública e caso fosse uma noite sem luar a escuridão era total, debelada apenas com um ou dois candeios (sic) utilizados na pesca. Nestas condições de escuridão podiam surgir duas situações desagradáveis: uma quando estava a ser lido o testamento, com o ponto de luz orientado para a leitura, e caía um torrão encharcado de água em cima do candeio (sic), resultado escuridão total e paragem da leitura, mas era retomada de seguida.
A outra situação era a colocação de um fio de pesca, arame ou corda a atravessar a rua para que quando o andor da Velha passasse embatesse nele provocando muitas vezes a queda do andor.
Para eliminar este contratempo, o andor vem acompanhado por um jovem com uma vara levantada, um pouco mais alta que o andor para detetar tal obstáculo. Convém referir que estas duas situações não eram feitas com intuitos de malvadez, mas sim para escárnio e gozo durante uns largos tempos e muitos desses casos são recordados em tertúlias aquando do reviver desta tradição.
Este ano, uma vez mais, vai sair à rua a Serração da Velha, é já no próximo dia 15 de março, às 21h30, no recinto da Junta de Freguesia. Como no passado é um evento tradicional que a Ronda Típica reativou e faz questão de continuar a levar a efeito todos os anos. Por motivos que se prendem com os custos de licenciamento deste evento, impostos por lei, o cortejo não se realiza e a leitura do respetivo testamento e a queima da velha serão efetuados no logradouro do edifício da Junta de Freguesia de Carreço. Fruto da legislação vemos as nossas tradições alteradas ou mesmo amputadas daquilo que eram e jamais voltarão a ser. Por tal motivo, a Direção da Ronda apela a todos para ajudarem a manter esta tradição que é muito nossa, comparecendo no local para assim superarmos de certo modo estes novos condicionamentos que a lei determina.
A organização faz mais um pedido a todos, partilhem e divulguem este evento junto de amigos e conhecidos, o qual a Ronda leva a efeito graciosamente. Portanto preparem-se as raparigas solteiras, entidades e associações da nossa freguesia, para receber os bens deixados pela Velha e porque ela também terá certamente a relatar algumas ocorrências.
Parabéns à Ronda Típica de Carreço por mais uma vez dar provas da sua resiliência e deste modo não permitir que a nossa tradição da Serração da Velha fosse banida do nosso memorando cultural.